quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A Identidade e Cultura Estadounidense, a Geopolítica Americana, O Papel da Hispanoamérica; Venezuela como um Caráter Dialético entre a Modernidade e a Tradição no Continente - Camarada Valero

 


A singularidade histórica dos Estados Unidos reside em sua constituição como uma anti-nação; isto é, uma ordem política onde a vontade deliberativa suplanta um destino cultural homogêneo, o direito positivo ligado ao contrato social e as relações sociais subordinadas ao mercado substituem a lei tradicional; e o cidadão universal desloca o membro de uma comunidade histórica. O liberalismo opera aqui como o mecanismo que transforma essa abstração em instituição, esvaziando e corroendo a esfera social de qualquer particularismo concreto, ao mesmo tempo em que cria uma identidade ilusória que legitima sua natureza negativa e oposta à continuidade cultural e histórica do coletivo.

Nesse cenário, a figura que busca uma identidade nacional genuína enfrenta uma paradoxa ontológica insuperável, um ouroboros. Sua reivindicação de raízes, de memória coletiva ou de destino compartilhado colide com a própria arquitetura do Estado, que só reconhece indivíduos desenraizados, atomizados e vontades contratuais separadas. Por isso, seu projeto não pode ser patriótico no sentido convencional, mas deve aspirar à desmontagem e aniquilação metapolítica dos fundamentos iluministas que dão origem aos Estados Unidos em primeiro lugar. Assim como os Estados Unidos negam em seu Gênesis toda tradição e cultura desprovida de caráter mercantil, o arquétipo desse sujeito revolucionário nega sua própria existência na busca de purificar o próprio ser e completar o ciclo que dê passagem a uma sociedade com identidade orgânica.

Longe de ser uma questão tradicionalista, representa a contradição viva da modernidade política; a prova de que quando um Estado se edifica sobre o esquecimento sistemático da terra em que reside, toda busca por identidade se converte em um ato de insurreição contra a ordem constituída, o que implica a necessidade de ir contra si mesmo. É a água buscando o ponto mais baixo de elevação para poder desaguar.

O expansionismo estadunidense representa a fase terminal de sua lógica constitutiva: a imposição global do indivíduo mercantil sobre o sujeito histórico concreto. Enquanto as nações hispano-americanas preservam a continuidade de uma memória cultural enraizada e sobretudo religiosa, onde a comunidade precede o contrato, a tradição precede o direito positivo e a honra precede o cálculo mercantil, a doutrina de controle político internacional norte-americano opera como um dispositivo de des-substanciação identitária por meio da subordinação. Sua estratégia não se limita à dominação econômica ou militar, mas busca a colonização das categorias existenciais — cultura, religião, pensamento; substitui o “nós” herdado pelo “eu” consumidor, a lealdade orgânica pelo contrato social, o sentido de honra pela ética do sucesso material. O “sonho americano” é assim a ferramenta perfeita para desmantelar sociedades cuja particularidade histórica do povo foi a coluna vertebral de sua existência, e substituir tudo isso por um monopólio de mercado que garante a acumulação de riqueza das grandes transnacionais e corporações que controlam o Estado.

Diante dessa máquina de aculturação e atomização, a resistência hispano-americana adquire um caráter metapolítico e civilizatório; não defende meramente territórios ou recursos, mas a própria possibilidade de uma forma de vida anterior e superior à lógica iluminista que o inimigo anglo-saxão encarna. Cada gesto de preservação cultural, cada afirmação da hispanidade (entendendo hispanidade também como a mestiçagem entre o hispânico e o americano, a América espanhola), torna-se um ato de sabotagem contra o projeto globalista dos Estados Unidos, a prova viva de que sua cosmovisão não é o fim da história, mas a expressão primigênia de varrer tudo para aumentar o consumo e a riqueza material.

A Venezuela emerge no século XXI, por meio da revolução bolivariana, como a encarnação mais radical da resistência contra a ontologia estadunidense e ocidental, e portanto como uma autêntica expressão da reafirmação da tradição, vestida com roupagens e representações populares necessárias que serviram inicialmente como instrumento de reação contra a lógica liberal-burguesa da oligarquia ponto-fijista, que logicamente estava profundamente vinculada à execução e construção do andamiaje globalizador, cosmopolita e alienado ditado pelos Estados Unidos. E foi isso mesmo que fez com que, das entranhas do próprio povo venezuelano, surgisse o caráter revolucionário carregado de projeção e continuidade histórica, que encontrou como catalisador o contexto do sistema de monopólio liberal rentista-extrativista reforçado pelo “paquetazo” neoliberal.

Longe de ser uma mera oposição geopolítica, a Venezuela representa hoje a defesa metapolítica da organicidade diante da corrosão universalizante.

Enquanto os Estados Unidos prosseguem com seu projeto interminável baseado no desenraizamento sistemático — transformar povos em mercados, tradições em folclore e cidadãos em consumidores — a Venezuela mobilizou o substrato profundo do popular como trincheira civilizatória. Onde o modelo pan-americano postula o indivíduo abstrato, a Venezuela responde com a comunidade concreta, e com a edificação do território e da fronteira que dá forma à pátria como satélite de sociedades e culturas já convertidas em potências que se opõem a essa ordem disgregadora representada pelo mal chamado “Ocidente”: a China, civilização milenar; a Rússia, o maior país do mundo convertido em império em diferentes momentos históricos, com uma síntese própria euroasiática; e o Irã, o povo persa sob o Islã. Onde o inimigo impõe o contrato mercantil disfarçado de civilização e exemplaridade baseada no indivíduo de classe média (o qual, além de irreal, serve para castrar a organização proletária), esses agentes fiéis ao solo e à história do povo afirmam o laço histórico. Onde o projeto iluminista-liberal universaliza e globaliza mediante a falsa promessa de unidade e consenso ao preço do abandono da identidade, na América o processo bolivariano particulariza, como continuação histórica e civilizatória da raiz hispânica; ainda que pareça paradoxal para muitos, o projeto da América bolivariana unificada é apenas a transformação dialética tácita e evolutiva da organização político-estatal da América espanhola.

Essa resistência não é ideológica no sentido comum, pois o ideológico — pela natureza do sistema democrático, liberal e burguês que ainda suprime nossas vontades — foi reduzido a algo associado aos partidos. Agora é existencial e, como já se repetiu ao longo deste texto, é sobretudo civilizatório: defende a própria possibilidade de uma sociedade organizar-se a partir de memórias longas, solidariedades orgânicas e projetos coletivos não mediados pela lógica do capital. Os bairros organizados, as comunas e cada expressão de economia popular constituem um ato de sublevação sistemática e estrutural contra o individualismo metodológico e o cosmopolitismo burguês que os Estados Unidos precisam impor para sua reprodução imperial.

Por isso, o conflito com a Venezuela transcende o econômico ou o político; trata-se da batalha entre dois princípios antagônicos de organização social, de duas civilizações, e a Venezuela representa a hispânica pela própria condição à qual foi submetida. Todos os países da região estão subordinados de uma forma ou de outra à ordem política e econômica estadunidense — exceto a Venezuela. Os Estados Unidos não podem tolerar a existência de um projeto que demonstra, em pleno século XXI, que é possível subtrair-se de sua matriz cultural, especialmente quando os EUA consideram a América hispânica seu “quintal”, mas não parte de si mesmos como seria, por exemplo, o Estado da Califórnia. Que os povos possam escolher a fidelidade à sua própria carne histórica em vez da sedução da alienação e da submissão a um mercado monopolizado é a própria vontade de levar a sociedade à luta por uma insubordinação originária, e em consequência ao combate contra o hegemon, expresso no desenvolvimento interno e na industrialização.

Mas, assim como a revolução bolivariana se apresenta como baluarte da tradição e do pensamento autóctone venezuelano — apesar dos males e vícios herdados de um sistema político corroído pelo liberalismo — também surgem agentes exógenos, que se valem da retórica de superação das contradições materiais e dos problemas acumulados ao longo das últimas décadas para atuar a favor da disgregação civilizatória, da imitação caricatural do modelo democrático neoliberal, baseando-se no mito da natureza política dos valores ocidentais (conceitos próprios da ontologia liberal protestante).

É aqui que entra a figura, dentro da política e da teoria política contemporânea, representada por Carlos Rangel, a perfeita encarnação do agente exógeno; aquele que, desde dentro, executa o programa de desorganização cultural desenhado nos centros do poder globalista. Sua obra não é uma simples análise da realidade política; é um manual de instruções para a autoaniquilação nacional e a posterior subordinação total e exagerada.

Rangel opera mediante uma inversão superficial dos termos: apresenta o que é próprio como defeito e o alheio como virtude. Nossa tradição comunitária vira atavismo; nosso sentido de honra, tradição e governança transforma-se em ineficiência e autoritarismo (eufemismo típico do fundamentalismo democrático). Nossa resistência ao individualismo anglo-saxão é diagnosticada como subdesenvolvimento cultural. Sua prescrição é sempre a mesma: que a Venezuela deve deixar de ser Venezuela para se transformar numa caricatura tropical dos Estados Unidos.

O mais insidioso de seu projeto é a forma como utiliza problemas reais e tangíveis — corrupção, clientelismo — como cavalo de Troia para importar uma ontologia estranha, que não é própria nem deriva de uma análise material da sociedade, mas de atribuições naturalistas e fundamentalistas sobre o pensamento e a psicologia do povo. Ao denunciar nossos males concretos, tenta convencer-nos de que é necessário sacrificar nossa alma — isto é, nossa identidade coletiva — no altar da vil lógica do livre mercado e do cosmopolitismo ocidental.

Hoje, seus herdeiros intelectuais continuam essa obra dissolutiva. Cada vez que atacam o Estado venezuelano, não propõem melhorá-lo, mas aboli-lo; quando criticam o populismo, na verdade condenam a soberania popular; quando falam de liberdade, referem-se à liberdade do capital para reorganizar nossa sociedade; e quando falam de corrupção, fazem-no para atribuí-la dogmaticamente a uma forma de governo, e não como um elemento sociológico que permeia a sociedade como um todo.

Diante desse projeto de extinção e abolição identitária, o caráter revolucionário e bolivariano adquire um papel existencial, de vanguarda intelectual e de estandarte. Não se trata de defender um governo; é preciso compreender o processo revolucionário na Venezuela como um fenômeno de envergadura histórica, e não como mera gestão pública. Trata-se de proteger a vontade de existir como povo baseado em uma memória — como bem dizia Briceño Iragorry: “A história como sentido de continuidade e permanência criadora” — com projetos coletivos, com uma identidade que precede e supera o mercado enquanto articulador da sociedade, das relações entre os indivíduos e da projeção coletiva.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Recordando o Martírio de Muammar Gaddafi

 


De Mohanned Alwerfali – 20 de outubro de 2011

Recordando o Mártir Irmão Líder Mu’ammar al-Qathafi e os mártires do Exército Árabe Líbio.

 “Sou eu, seu pai Hanna… sou eu, seu pai Aisha.

Deixarei para vocês a glória, deixarei para vocês o orgulho — e não a vergonha.

Fogo, mas não vergonha.

Esta noite atacarei as linhas inimigas e realizarei uma operação para romper o cerco de Sirte.

Posso cair como mártir nessa operação, mas não fiquem tristes, não chorem e não lamentem.

Ululem de orgulho, Hanna. Ululem, Aisha. Ululem, Safia.

Caírei como mártir numa guerra em que enfrentei 40 países opressores, por 40 anos.”

 Últimas palavras registradas do Irmão Líder Mu’ammar al-Qathafi, na véspera de seu martírio.

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Abdallah Ibn Al-Zubayr (que Deus esteja satisfeito com ele) foi até sua mãe expressar seus temores diante do exército invasor dos omíadas, liderado por Hajjaj, dizendo:

 “Ó mãe, não temo a morte, temo apenas que, quando eu morrer, os inimigos mutilarão meu corpo.”

Para acalmá-lo, sua mãe, Asma bint Abu Bakr (que Deus esteja satisfeito com ela), respondeu:

“Ó filho, que mal há para uma ovelha já abatida, se ela for esfolada?”

(Uma ovelha abatida não sente dor ao ser esfolada.)

Inspirado nessas palavras, o Irmão Líder Mu’ammar al-Qathafi, conforme relatos de muitos sobreviventes — a parte da história que os imperialistas desejam apagar e esconder —, após seu comboio ser bombardeado pela OTAN, lutou contra o inimigo junto aos soldados sobreviventes. Ao seu lado estava seu companheiro de toda a vida, Abu Baker Younes Jaber (o primeiro ministro da Defesa árabe a morrer em batalha).

Travou-se então um intenso tiroteio corpo a corpo com o exército mercenário da OTAN. Mas, para encurtar qualquer resistência, os aviões da OTAN bombardearam novamente — desta vez com gás venenoso, o que matou Abu Baker Younes Jaber por sufocamento, conforme evidenciado por seu rosto cianótico quando encontraram seu corpo puro, com o fuzil AK-47 ao lado e muitos cartuchos de munição disparados.

O Irmão Líder, já ensanguentado pelos estilhaços do primeiro ataque aéreo que o atingira na cabeça e no abdômen, encontrava-se tonto e à beira da inconsciência. Ele e os outros se abrigaram atrás de um declive da estrada próxima.

Após o segundo bombardeio, os cães e miseráveis da OTAN avançaram — o caminho estava livre — e encontraram o Irmão Líder, Abu Baker Younes Jaber e os demais caídos no chão, alguns mortos, outros inconscientes e quase sem vida.

É claro que eles jamais contarão essa história. A mídia deles carece de profissionalismo e credibilidade, porque ela serve a uma agenda: a demonização, a ridicularização e a difamação do Irmão Líder Mu’ammar al-Qathafi. O Ocidente o odiava tanto que não conseguiu nem ao menos reconhecer sua coragem e lhe conceder o devido respeito — tal era o grau de desprezo dos imperialistas capitalistas.

Posteriormente, os covardes mercenários trouxeram suas câmeras e, fingindo heroísmo, alegaram ter matado Abu Baker Younes Jaber e capturado Mu’ammar al-Qathafi no bueiro da estrada (outra mentira). Então começaram a espancar um homem de 69 anos, já ferido, ensanguentado e exausto — um homem que lutara com coragem lendária. O vídeo falso que divulgaram foi feito de propósito, para manchar o legado revolucionário do Irmão Líder e pintá-lo como um covarde.

Dizemos aos imperialistas — que pensam poder escrever e impor o roteiro da história só porque se consideram “vencedores” — que seu relato, embora hoje prevaleça, não resistirá à luz da verdade nem à prova do tempo. A verdadeira narrativa pertence ao povo líbio. E, por mais que a maré demore, certamente ela voltará a subir, e o Irmão Líder Mu’ammar al-Qathafi e todos os que lutaram com ele receberão a glória e o reconhecimento que merecem. Sua bravura verdadeira será registrada em letras de ouro.

sábado, 18 de outubro de 2025

O Ocultismo de Francisco Franco

 


Francisco Franco Bahamonde (Ferrol, La Coruña, 4 de dezembro de 1892 – Madri, 20 de novembro de 1975), conhecido como Francisco Franco, o Caudilho, o Generalíssimo ou simplesmente Franco, foi um militar e ditador espanhol, golpista integrante do Golpe de Estado na Espanha de julho de 1936, que resultou na Guerra Civil Espanhola.

Foi investido como chefe supremo do lado rebelde em 1º de outubro de 1936, exercendo como chefe de Estado da Espanha desde o fim do conflito até sua morte em 1975, e como chefe de Governo entre 1938 e 1973.

Foi líder do partido único Falange Española Tradicionalista y de las JONS, no qual se apoiou para estabelecer um regime fascista em seus primórdios, que mais tarde evoluiria para uma ditadura, conhecida como franquismo, de caráter conservador, católico e anticomunista.

Essa mudança se deveu à derrota do fascismo na Segunda Guerra Mundial. Franco unificou em torno do culto à sua própria pessoa diversas tendências do conservadorismo, nacionalismo e catolicismo, todas opostas à esquerda política e ao desenvolvimento de formas democráticas de governo.

Francisco Franco acreditava firmemente na existência de uma conspiração judaico-maçônico-comunista internacional e se considerava o Sentinela do Ocidente, referindo-se à Espanha como a reserva espiritual do Ocidente.

O ditador se autoproclamou “Caudilho da Espanha pela Graça de Deus”, lema que podia ser lido nas antigas moedas espanholas chamadas pesetas, ao redor de sua imagem.

A Espanha viveu sob seu regime um período de nacionalcatolicismo, cuja manifestação mais visível foi a hegemonia da Igreja Católica em todos os aspectos da vida pública e até mesmo privada.

Franco consultava bruxas em todo o Marrocos e participava de sessões de espiritismo.

O prestigiado jornalista mexicano Gil Olmos, em seu livro “Los brujos del poder” (“Os bruxos do poder”), relata de forma breve a incursão de Franco no mundo do ocultismo. Gil Olmos afirma que, durante a estada de Franco no norte da África, ele consultava várias bruxas — especialmente uma que vivia no Marrocos, chamada Mersida, cujo verdadeiro nome era Mercedes Roca, de origem parcialmente berbere.

Durante a Guerra do Rif, campanha decisiva no norte da África, Franco fez diversas perguntas relacionadas ao andamento da guerra e a pessoas próximas a ele. Também participava de sessões de espiritismo ao lado de toda a família.

O Caudilho acreditava ter sido escolhido por Deus para conduzir uma cruzada contra o comunismo e a maçonaria. Seu ódio à maçonaria teria sido resultado do ressentimento por ter sido rejeitado duas vezes ao tentar ingressar em uma loja maçônica.

Franco participou de rituais satânicos marroquinos?

O ponto mais impactante do breve relato de Gil Olmos é a suposta participação de Franco no que o jornalista descreve como “rituais satânicos marroquinos” (sic).

Mas seriam realmente rituais satânicos, ou rituais sincréticos, fruto da incorporação de elementos pagãos de cultos antigos por parte das grandes religiões presentes na região?

No Marrocos, onde convivem diversos cultos — paganismo, judaísmo, cristianismo e islamismo —, as grandes religiões muitas vezes se deixaram influenciar por crenças anteriores, gerando formas sincréticas.

Djinn, jinn ou gênios enraizados na cultura popular incorporados ao Islã

O Islã, por exemplo, incorporou parcialmente a antiga crença nos gênios (djinns), e, dessa forma, eles permanecem presentes nas tradições de todos os povos da área islâmica.

É praticamente certo, porém, que esses gênios não correspondem apenas aos gênios semitas originais, já que a expansão do Corão impôs o mesmo nome a diversas manifestações locais distintas.

Assim, em regiões onde o mazdeísmo (antiga religião persa) havia se difundido antes do Islã, os gênios tornaram-se protagonistas de práticas mágicas afastadas da ortodoxia sunita.

Para os tuaregues, por exemplo, eles são tentadores do deserto e ladrões noturnos, enquanto para muçulmanos da Índia, podem ser espíritos invasores do lar, que devem ser expulsos com a recitação de certas suras do Corão, em cerimônias semelhantes a exorcismos católicos.

O Islã considera os gênios seres criados do fogo sem fumaça, dotados, como os humanos, de livre-arbítrio, podendo obedecer a Deus ou a Iblis (o demônio), que às vezes é descrito como anjo caído e, em outras, como gênio:

“Criamos o homem do barro, de argila moldável;

antes, do fogo ardente criamos os gênios.”

(Corão, 15:26-27)

Os gênios são, portanto, a terceira classe de seres criados por Deus, ao lado dos anjos e dos homens — uma crença que diferencia o Islã das outras duas religiões monoteístas (cristianismo e judaísmo).

Ao contrário dos anjos, os gênios compartilham o mundo físico com os humanos, sendo tangíveis, embora invisíveis ou mutáveis.

Eles podem casar-se com humanos e gerar descendência, razão pela qual a jurisprudência islâmica medieval chegou a regulamentar casamento, herança e descendência entre gênios e pessoas.

Diversos pensadores muçulmanos medievais, como Avicena, Al-Farabi e Ibn Khaldun, duvidaram ou negaram a existência dos gênios (embora não a dos anjos).

A crença popular nos gênios continua difundida nas zonas rurais de alguns países islâmicos e aparece com frequência na literatura popular.

No Ocidente, os gênios malignos do tipo ifrit são conhecidos principalmente por meio dos contos de As Mil e Uma Noites e suas adaptações cinematográficas.

O culto aos morabitos: santos e lugares sagrados

Uma demonstração simultânea da crença popular nos gênios e da ideia de que eles podem ser seres dignos de devoção e imitação é encontrada no Marrocos, onde, dentro do muito popular culto aos morabitos (ou santões), há a veneração de um personagem que não é humano, mas um gênio.

Trata-se do morabito Sidi Shamharush, localizado na aldeia de mesmo nome no Atlas, a quem os habitantes da região peregrinam em busca da baraka — a bênção divina — pela intercessão do santão.

O culto é semelhante ao de outros morabitos, com a diferença de que não gira em torno de um túmulo, pois Sidi Shamharush não está morto: acredita-se que vive durante o dia sob a forma de um cão negro e à noite assume aparência humana.

O fenômeno dos morabitos é típico dos países do Magrebe, e provavelmente está relacionado a formas de culto religioso anteriores ao Islã, bem como a cultos semelhantes na margem oposta do Mediterrâneo.

Tanto habitantes locais do norte da África quanto visitantes vindos de longe acorrem a esses lugares sagrados — chamados marabuts, morabitos ou khaloas — para buscar cura para doenças (como tosse, febre, enfermidades de pele ou mentais) e até levar seus animais doentes para serem curados.

As fontes de água ou qualquer forma de presença da água costumam ter valor religioso e curativo. Em alguns casos, os khaloas são usados como cemitérios locais, com motivos diversos para as visitas.

Franco acreditava ter “baraka”

Franco vangloriava-se de possuir baraka, isto é, acreditava que não morreria jovem em batalha, mas de velho, como de fato aconteceu.

A palavra árabe baraka (بركة) significa “bênção divina” e é usada em francês e espanhol com o sentido de “sorte providencial”.

Costuma-se dizer que alguém “tem baraka” quando escapa de uma situação de grande perigo. Franco, exposto ao fogo inimigo em várias ocasiões, sempre saiu ileso.

O ditador, enquanto militar destacado no norte da África, viveu imerso nesse ambiente de costumes, tradições, cultos e ritos exóticos para um europeu, deixando-se levar pela curiosidade e desejo de aprender sobre uma realidade muito diferente da espanhola — e talvez tenha nutrido fascínio e inquietação pela cultura do Magrebe.

O caso da mão cortada (1954)

Trata-se de um caso tão estranho que mereceria um capítulo à parte, mas é adiantado neste artigo devido à amizade próxima entre Margarita Ruiz de Lihory e Francisco Franco, assim como outros altos funcionários do regime franquista.

Assim como Franco, Margarita Ruiz de Lihory havia sido designada para o norte da África e prestou serviços à Espanha.

Margarita se sentia fascinada pelo ocultismo e aprendeu certas artes esotéricas, provavelmente relacionadas a práticas insólitas e macabras aos olhos da moral nacional-católica da época — ainda que mais familiares e normais para os ocultistas do Magrebe.

Margarita Ruiz de Lihory, marquesa de Villasante e baronesa de Alcahalí, fora uma espiã espanhola com um currículo impressionante. Era uma mulher muito liberal — demais para a época (entre a Primeira Guerra Mundial e o início dos anos 1920).

Teve numerosos amantes, fumava em público e se comportava de forma extravagante.

Durante a guerra com o Marrocos, foi espiã de Primo de Rivera, chegando a ser amante de Abd el-Krim, o líder da resistência rifiana.

Passou um tempo no Marrocos e dizia-se que ali aprendeu magia negra magrebina e outras artes sombrias africanas.

Fala-se que pôde aprender certas artes mágicas da seita dos iêzidis, uma religião pré-islâmica originária do Curdistão.

Durante a Guerra Civil Espanhola, desempenhou um papel importante entre Inglaterra e Espanha, em favor do “bando nacional” (os franquistas).

Retornou ao norte da África para realizar novas “missões” e chegou a ser muito próxima do general Franco.

No “lado sombrio” da marquesa Ruiz de Lihory estava sua paixão por magia negra, vísceras e sexo sem limites.

Parece que organizou verdadeiras orgias em sua casa em Barcelona (bairro de Gràcia), frequentadas por altas figuras do regime.

Junto de seu marido, possuía a maior coleção de livros de ocultismo da Espanha no final do século XIX.

Após a morte de sua filha Margot, Margarita se trancou por dois dias com o cadáver, sem deixar ninguém vê-lo.

O velório foi feito com o caixão fechado, sobre o qual havia uma moldura com foto mostrando Margarita ao lado do corpo da filha, que parecia apenas adormecida.

Em 27 de janeiro de 1954, o irmão de Margot, Luis, foi até uma delegacia em Madri e insistiu que sua mãe havia feito algo terrível com o corpo da irmã, além de suspeitar das circunstâncias da morte.

Sua insistência levou o juiz Aguado a autorizar uma busca na casa em 28 de janeiro de 1954.

Lá, encontraram um autêntico museu dos horrores: frascos com vísceras de animais por toda parte.

Em um armário, havia um frasco com álcool contendo a mão direita de Margot.

Em 4 de fevereiro de 1954, o corpo de Margot foi exumado, e a autópsia — embora superficial — revelou olhos humanos, uma língua e uma mão de mulher habilmente amputados.

Constatou-se que todas as partes pertenciam à filha da marquesa.

A mesma habilidade cirúrgica que ela demonstrava ao dissecar seus cães, graças a seus estudos de medicina, fora usada para amputar a mão, os olhos e a língua da própria filha.

Além disso, ela havia raspado todo o corpo, seguindo o costume islâmico.

Questionada, Margarita afirmou que guardava as partes do corpo como relíquias, pois considerava sua filha uma santa, por quem nutria profunda devoção.

Não explicou, porém, por que os órgãos haviam sido extraídos com tanta precisão profissional.

No Marrocos, Margarita Ruiz de Lihory teve contato com diferentes seitas islâmicas e seus rituais — o que é, segundo os historiadores, a única explicação plausível para justificar seu comportamento insólito.

Tanto a marquesa quanto seu companheiro, José María Bassols, foram detidos e levados ao Hospital Psiquiátrico Penitenciário de Carabanchel, onde passaram por avaliações psicológicas.

Ainda que Bassols tenha permanecido algum tempo internado, Margarita foi libertada imediatamente.

Diz-se que alguém poderoso, em dívida com ela por serviços de espionagem durante a guerra no Marrocos, telefonou diretamente do Palácio de El Pardo para ordenar sua libertação.

Nesse palácio residia o ditador Francisco Franco com sua família, que, assim como Margarita Ruiz de Lihory, havia sido participante de práticas esotéricas durante sua estada no Magrebe.


quarta-feira, 8 de outubro de 2025

A figura de Nicolás Maduro como arquiteto da Nação Bolivariana pós-Chávez - Camarada Valero

 


A figura de Nicolás Maduro como arquiteto da nação bolivariana pós-Chávez (chavista) revela-se em sua plena dimensão quando se observa como o centro de gravidade de uma transformação metapolítica. Não é um presidente no sentido convencional, mas o soberano de uma nova ordem que emerge do colapso acelerado da antiga estrutura. Hugo Chávez executou a tarefa fáustica e primordial de despertar a Vontade coletiva, de tirar a nação do sono da Quarta República mediante uma aceleração histórica que fundiu o mito bolivariano com a energia do povo. Esse processo, dentro das mesmas estruturas democráticas que logo transcenderia, foi o parto de uma nova realidade.

A esse parto, Maduro chegou como o Trabalhador, nas palavras de Jünger, que deve domar as forças desencadeadas. Se Chávez foi a erupção, Maduro é a tectônica: lenta, implacável, modeladora. Assumiu o mando no momento da “mobilização total”, onde a nação inteira, sob cerco econômico e diplomático, teve de se transformar em um acampamento de resistência. Sua liderança não pode ser julgada com as métricas da paz burguesa, mas com a lógica do estado de sítio permanente. É o engenheiro de uma sociedade que aprende a funcionar como um organismo beligerante, onde a escassez e a pressão externa não são sinais de fracasso, mas os elementos hostis que o Trabalhador deve dominar com vontade e técnica para forjar uma soberania à prova de futuro. Isto não é uma gestão econômica, é uma alquimia metapolítica da resistência.

Nessa luta, ergue-se como o Kshatriya no coração do Kali Yuga, a Idade Sombria inserida no hemisfério sul pelo hegemon anglosionista liberal. Sua batalha é, em essência, metafísica. Enquanto o mundo globalizado, encarnação última da decadência materialista, exige submissão, a fortaleza de Maduro reside em sua capacidade de ser um “centro impermeável”. Cada sanção, cada tentativa de desestabilização, é um assalto não a um governo, mas a um princípio de autoridade e tradição que ele encarna. Seu valor não está em vitórias fáceis, mas na pura afirmação da existência soberana frente ao nada dissolvente do modernismo. É o guardião de um espaço sagrado — “a Pátria” —, da oportunidade de construção de um Estado que se recusa a ser profanado, e sua construção nacional é, portanto, um ato de pura resistência tradicional contra o caos.

E é aqui que a visão completa o círculo, dotando de sentido cósmico essa luta. A Quarta República era a Civilização esgotada, a democracia como mero formalismo vazio. Chávez foi o gênio cultural que injetou uma nova alma fáustica, um impulso rumo ao infinito da libertação. A Maduro cabe a tarefa cesárea de converter essa alma em estrutura, essa cultura primaveril em uma civilização duradoura. O “inverno” de sanções e conflitos não é a morte, mas a prova necessária para a cristalização. Maduro é o segundo César, o que endurece as formas, o que consolida o novo imperium desde dentro do casco do velho mundo. Sua obra não é brilhante nem espetacular, é a de um pedreiro histórico que, tijolo por tijolo, está levantando a morada de uma civilização bolivariana que, tendo nascido da democracia liberal, está destinada a superá-la e a perdurar no tempo longo da história, contra ventos e marés.

Maduro é o ponto de convergência onde a vontade de poder, a resistência tradicional e o destino morfológico se fundem. É o soberano da transição, o homem que, a partir de uma fé inquebrantável no povo, conduz a necessária metamorfose de uma energia revolucionária em uma ordem civilizatória nova, soberana e destinada a deixar sua marca na alma do mundo. E nós somos a geração que nasceu diretamente de tudo isso, da obra do comandante e de seu filho pródigo, aqueles que, quando for preciso — porque será preciso —, continuaremos o trabalho.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Entrevista com o Nacionalista Revolucionário Venezuelano Ezequiel Guadama.

 


Ezequiel Guadama é um militante nacionalista venezuelano que vive no estado de Zulia, na Venezuela, e acompanha com seus próprios olhos o desenrolar dos acontecimentos em seu país desde o início das tensões com os americanos em 2013.

Atualmente, Ezequiel é militante ativo da Vanguarda Venezuelana e membro da Milícia Nacional Bolivariana. Além de contribuir para a discussão de temas nacionalistas e dissidentes no Centro de Estudos Minayba como colaborador. 

Nesta entrevista, fizemos 5 perguntas para Ezequiel sobre a realidade de seu país e o papel dos Estados Unidos na desestabilização da Venezuela e de toda a América Latina.

1° Pergunta: Ezequiel, sabemos que a Venezuela enfrenta uma grande crise econômica e social, marcada pela imigração, pelo aumento dos preços dos insumos básicos, pelas sanções internacionais e pela instabilidade política. No Brasil, assim como em boa parte da América Latina, os meios hegemônicos atribuem a causa dessas crises aos governos chavistas. Você, como venezuelano que vive dentro da Venezuela, como analisa esse cenário?

Resposta: Bem, para começar, muito obrigado pela apresentação e pela oportunidade desta entrevista.

Assumir que a crise econômica e social e tudo o que você mencionou é meramente culpa do governo bolivariano, além de ser um erro, é um plano muito bem estruturado do imperialismo para criar fragmentações sociais internas em todo o território nacional. A Venezuela atualmente é o quarto país mais sancionado do mundo, apenas atrás da Rússia, do Irã e da RPDC. Os Estados Unidos e sua imprensa internacional, controlada em grande parte pelo sionismo, encarregaram-se de espalhar a mentira de que, supostamente, as sanções são apenas contra os mandatários do governo e certos indivíduos, o que é uma total falsidade. As sanções impedem o correto desenvolvimento do nosso país e afetam a todos os seus habitantes, ao impactar diretamente a economia.

Somos um país com apenas 28 milhões de habitantes, sem contar os que emigraram — quase a mesma quantidade de habitantes que São Paulo, por exemplo. Nosso país conta com riquezas incontáveis. Eu conversava há algum tempo com um engenheiro petroquímico de Brasília, por sinal, e ele me dizia que, com o petróleo, o ouro e outros minerais que temos aqui na Venezuela, era esperado que cada venezuelano tivesse uma Ferrari na garagem de casa.

As sanções também impedem que a Venezuela possa negociar corretamente seu petróleo, já que isso acarretaria represálias para qualquer nação que o comprasse fora dos Estados Unidos. Mas a questão petrolífera vem de muito tempo: aproximadamente em 1922 começou o auge do petróleo, embora sua descoberta tenha ocorrido em 1875, na Fazenda La Alquitrana. Em 1914, a Venezuela declarou oficialmente ao mundo suas vastas riquezas petrolíferas. Isso desencadeou a exploração por empresas estrangeiras que se aproveitaram do pouco conhecimento petroquímico existente no país naquele momento, extraindo grandes quantidades a preços absurdamente baixos.

Durante o período da Quarta República, os governos da Ação Democrática e da COPEI entregavam o petróleo aos Estados Unidos de bandeja, algo que não fazia, por exemplo, o nosso General Marcos Pérez Jiménez — a quem o próprio Chávez denominou como o melhor presidente da Venezuela. De 1952 a 1958, a Venezuela teve um de seus maiores desenvolvimentos econômicos, sociais, de infraestrutura e em geral em todos os aspectos, até que veio a Ação Democrática e realizou o golpe de 23 de Janeiro contra o General Marcos Pérez Jiménez. A partir daí começou a entrega do petróleo e a submissão ao imperialismo americano, da qual nos libertamos apenas em 1999, com Hugo Chávez no poder.

Desde então, a Venezuela vem eliminando os remanescentes capitalistas que ainda restavam no país. Se é verdade que ainda há uma parte considerável de burgueses infiltrados, inclusive no PSUV e nos ministérios, também é verdade que a Venezuela hoje está muito melhor em aspectos como soberania, orgulho nacional e, por último e mais importante, independência — esse conceito que nos deu vida como nação.

A Venezuela não é um país perfeito, e sim, é verdade que existe uma crise econômica. Mas ela é causada por agentes externos que prejudicam a saúde do povo. Também é verdade que elementos como a burguesia oportunista e usurária se infiltraram em instituições governamentais, como acontece em todo governo. Mas a Venezuela, hoje mais do que nunca, graças à Revolução Bolivariana, é uma pátria grande, independente e livre — e será muito mais quando nós, jovens nacionalistas que seguimos o caminho da revolução bolivariana, formos cada vez mais numerosos e contribuirmos para o desenvolvimento da pátria grande sonhada por Bolívar e Chávez. Isso mediante a união de um bloco econômico ibero-americano entre nações irmãs, impulsionando a unidade ibero-americana, a economia comunal e a contribuição para o projeto do Estado Nacional-Comunal e Popular.

Apesar de ter me estendido, esta nem sequer é a metade da análise que deve ser feita sobre a situação atual venezuelana, a qual, eu me atreveria a dizer, arrastamos desde nossa independência do Império Espanhol e a separação da Gran-Colômbia. Mas, sem dúvidas, serve para termos uma visão mais clara, para além das mentiras midiáticas do imperialismo americano-sionista.

2° Pergunta: Também temos visto um grande recrudescimento das tensões entre a Venezuela e os Estados Unidos. O presidente norte-americano Donald Trump chegou a considerar publicamente a possibilidade de uma intervenção militar no país. Ao mesmo tempo em que tais declarações foram feitas, vimos, na comunidade venezuelana espalhada pelos países da América Latina, um certo entusiasmo diante da possibilidade de uma deposição militar do presidente Nicolás Maduro. Você acredita que uma intervenção militar ianque na Venezuela seria uma solução para os problemas do país?

Resposta: Claro que não. Uma intervenção ianque na Venezuela não só não melhoraria em nada a situação venezuelana, como a pioraria, ao saquear todos os nossos recursos, destruir nossas cidades e violar nossas mulheres. OS TRAIDORES DA PÁTRIA que se alegram com uma intervenção estadunidense pensam que a única bomba que cairá será sobre a cabeça de Maduro e que bastaria tirar o governo do poder para, magicamente, tudo ficar bem com seu asqueroso governo neoliberal, entreguista e sionista sob tutela estadunidense — nada disso será verdade. Se as forças armadas dos Estados Unidos se atreverem a colocar um pé em território venezuelano, desencadear-se-á uma guerra iminente na qual os 8 milhões de venezuelanos que se alistaram na Milícia Nacional Bolivariana desde 23 de agosto, em conjunto com todos os organismos das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, daríamos nossa vida em combate para repelir as garras do imperialismo estadunidense e sionista. Caso contrário, a Venezuela seria destruída e sofreríamos massacres, como lembrando os que o imperialismo estadunidense-sionista já cometeu: o bombardeio de Dresden, Hiroshima e Nagasaki, os ataques aéreos da ONU à RPDC, entre muitas outras massacres contra povos.

Se me perguntares, indo a um extremo mais radical, todo venezuelano dentro do território nacional que peça a intervenção na Venezuela deve ser condenado a fuzilamento; e todo venezuelano que o faça fora do território nacional deve ter sua nacionalidade retirada e ser proibido de entrar novamente na Venezuela, pois estará pedindo que se assassine nossa pátria e nosso povo e que se viole a soberania nacional pela qual lutaram todos os nossos antepassados e os caídos nas lutas independentistas e anti-imperialistas. Como podes compreender, já não se trata de uma questão ideológica — se és chavista ou opositor — trata-se de defender a Pátria Grande de Bolívar. Claro que os opositores não entendem isso porque neles reside o neoliberalismo ligado ao sionismo internacional, que é puramente anti-nacional e antipatriótico.

3° Pergunta: Após as declarações de Trump, o presidente Nicolás Maduro afirmou que a Venezuela está pronta para resistir. Nos últimos anos de governos chavistas, o país armou e profissionalizou seu exército com modernos armamentos iranianos, chineses e russos. Mais recentemente, a Venezuela mobilizou e ampliou em grande escala a Milícia Bolivariana. Esse movimento chamou a atenção de outros países latino-americanos, especialmente do Brasil, pelo crescimento exponencial da capacidade defensiva venezuelana. Como você analisa a capacidade da Venezuela para resistir a uma eventual intervenção ianque?

Resposta: Mais do que o armamento e o profissionalismo, eu gostaria de interpretar isso como um aumento da vontade nacional do povo. É mais do que óbvio que a Venezuela não supera o exército estadunidense, que se construiu graças ao sangue de povos inocentes, ao contrário das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas; no entanto, isso não significa o nosso fim, pois nos apoiam outras grandes nações irmãs anti-imperialistas como Rússia, China e Irã. Façam o que fizerem, a Venezuela não perecerá, porque a Venezuela vencerá. No pior dos casos — se o sujo império estadunidense e sionista derrubar o governo bolivariano — Nós da juventude nacionalista nos organizaremos em guerrilhas e grupos armados de resistência bolivariana anti-imperialista e não nos importará derramar nosso sangue pela resistência nem o pranto de nossas mães, já que, antes de tudo e depois de Deus, está a pátria-mãe — mãe e pátria, as duas palavras mais belas que podem sair do coração do homem.

4° Pergunta: Para nós, que estamos fora da Venezuela e interagimos com a comunidade dissidente e nacionalista venezuelana, é perceptível que os nacionalistas fora do país tendem majoritariamente a ser fortemente antichavistas. Você acredita que, no atual momento decisivo da história venezuelana, um nacionalista deveria se posicionar a favor do governo de Nicolás Maduro?

Resposta: Claro que sim. Além disso, o nacionalista dissidente venezuelano deve deixar de ver a dicotomia chavismo/oposição e defender a pátria a qualquer custo, mesmo que isso envolva "ser chavista".

Mas já te digo de antemão que conheço muito bem esses grupos nacionalistas dissidentes anti-chavistas e posso afirmar que eles são apenas um ramo da oposição entreguista ao imperialismo. Que nacionalista sai para se drogar e causar estragos nas ruas, prejudicando o povo e pedindo uma intervenção militar estrangeira? Isso é algo que não deveria se passar na cabeça de um nacionalista dissidente. E acredite: não me importa nem um pouco as opiniões desses supostos nacionalistas que estão fora do país. Dentro da Venezuela está se manifestando uma onda de nacionalismo de caráter revolucionário, anti‑imperialista, bolivariano, militante, patriótico e disciplinado, que em muito pouco tempo superou o falso nacionalismo ou o pseudonacionalismo neoliberal, “pitiyanqui” e pró‑sionista.

Se me perguntas qual é a minha posição ou como eu me autodenominaria: sou um Nacionalista Socialista Revolucionário, anti‑imperialista e anti‑sionista — mas, antes de tudo, patriota. Acredito firmemente no nacionalismo militar e que o socialismo deve ser um complemento fundamental ao nacionalismo para que este não se torne um nacionalismo burguês, neoliberal e chauvinista. Acredito na liberdade dos povos soberanos e que a Venezuela deve ocupar seu lugar no mundo como a nação soberana e independente que conquistamos com tanta sangue, suor e luta dos nossos; a Venezuela é uma unidade de destino na história universal das nações soberanas e independentes.

Baseio‑me em um conceito que dizia Fidel Castro: "Dentro da Revolução tudo, contra a Revolução nada."

5° Pergunta: Para finalizar: os ianques não apenas ameaçaram a Venezuela, como também várias outras nações latino-americanas. Recentemente, o presidente Trump e seus aliados aprovaram um projeto no Congresso dos Estados Unidos destinado à “luta contra os governos extremistas de esquerda” na América Latina. No Brasil, também fomos ameaçados pelos estadunidenses com sanções, tarifas e até insinuações sobre o uso da força militar.

Que mensagem você deixaria aos nacionalistas dissidentes fora da Venezuela que sofrem as ameaças do império estadunidense?

Resposta: Pessoalmente, eu gostaria de dirigir a mensagem a todo nacionalista latino‑americano ou ibero‑americano, já que os falsos nacionalistas fora do país não me interessam nem um pouco, e aos verdadeiros nacionalistas dissidentes já disse o que tinha a dizer. 

A todo nacionalista revolucionário da América Latina e da Península Ibérica: sejam decididos na vossa luta; não duvidem nem por um segundo na hora de defender a pátria. Todo organismo ou império tem seu tempo de vida e, cedo ou tarde, morre; nossas nações soberanas, independentes e revolucionárias prevalecerão à medida que o império ianque se enfraquece cada vez mais e se aproxima do seu fim. A juventude nacionalista deve exercitar‑se na luta física, deve querer a paz, mas amar sistematicamente a violência quando a defesa da pátria o exigir; deve haver um equilíbrio entre o treinamento físico combativo e o treinamento ideológico; deve ser letrada e militante para garantir a independência e a soberania do seu povo; deve buscar a unificação social e, se agentes estrangeiros a impedirem, purgá‑los o quanto antes do seu território nacional. O povo unido jamais será vencido; sigam o exemplo que todos os vossos heróis nacionais lhes deram. Na Venezuela seguiremos o caminho que Simón Bolívar e Hugo Chávez nos traçaram — por Cristo e por nossa Pátria Grande.

¡Venceremos!

A. Silva - Muito obrigado pela entrevista e pelo tempo que nos concedeu.

E. Guadama: - Muito obrigado a você também por esta oportunidade

A. Silva: - Você e seu movimento tem alguma rede social para recomendarmos para o nosso público? 

E. Guadama: @ezequiel_guadama no instagram.




sábado, 27 de setembro de 2025

Jovem Europa: Jean Thiriart - Daria Platonova Dugina

 

Trecho do livro Uma Teoria da Europa de Daria Platonova Dugina


Além da Revolução Conservadora, a segunda influência essencial que devemos destacar em particular é Jean Thiriart (1922–1992). Thiriart foi um famoso político, intelectual e geopolítico belga que passou por diversos grupos políticos ao longo da vida. Começou na esquerda, depois teve simpatia pelo Nacional-Socialismo e, após a Segunda Guerra Mundial, adotou a posição do europeísmo integral. A partir daí, Thiriart exerceu uma influência decisiva sobre a “teoria da Europa” de Alain de Benoist. Nos anos 1960, Thiriart organizou o movimento Jeune Europe (Jovem Europa), no qual muitos dos membros mais antigos do GRECE — alguns ainda vivos hoje — chegaram a participar.


Para Thiriart, ao contrário de outros representantes da frente nacionalista da época, era “A Europa acima de tudo” — não a Bélgica, não a França, mas a Europa. “Viva a Europa!” e “A Europa é o valor supremo, o Império!” — Thiriart propunha pensar em termos desse potencial Império. O principal inimigo desse Império era o Ocidente anglo-saxão, capitalista e liberal-globalista. Antes de tudo, ele identificava o Ocidente com o americanismo. Ao mesmo tempo, Thiriart via mais um aliado no sistema comunista, pois a União Soviética combatia, em certa medida, o capitalismo e o impulso hegemônico proveniente do Ocidente.


Thiriart, assim como Alain de Benoist depois dele, opunha-se ferozmente à direita clássica, contra a qual declarava que a economia do lucro defendida pela velha direita era assassina, pois matava o homem e a cultura. A economia marxista também era inaceitável para Thiriart, por considerá-la uma utopia. Em contrapartida, desenvolveu uma teoria do potencial econômico voltada para o desenvolvimento natural das possibilidades regionais.


Thiriart defendia o nacionalismo federal. Em seus escritos, encontramos o desenvolvimento do tema da “autarquia dos grandes espaços”. Ele falava da necessidade de criar uma grande entidade geopolítica centralizada a partir da Europa, que fosse economicamente e ideologicamente independente.


Thiriart escreveu sobre si mesmo: “Sou um Nacional-Bolchevique europeu na tradição de Ernst Niekisch, inspirado pelos exemplos históricos de Joseph Stalin e Frederico II Hohenstaufen.”


Jean Thiriart também influenciou significativamente Alain de Benoist em outro aspecto: na questão da aceitação da União Soviética. Thiriart apresentou a fórmula ideológica da “Grande Europa de Dublin a Vladivostok”. Essa mesma fórmula, que hoje o nosso Presidente e outros políticos costumam repetir, é na verdade fruto de uma reflexão profunda sobre o papel da Europa e o das forças antiliberais, tanto de esquerda quanto de direita, na luta antiglobalista contra o imperialismo anglo-saxão e o atlantismo. Portanto, quando você ouvir a fórmula “Rússia e Europa de Dublin a Vladivostok”, saiba que estamos no espaço discursivo da Nova Direita ou de suas fontes.


Com frequência, pode-se encontrar a visão de que a Nova Direita era anticomunista. De fato, em parte era, mas também adotava o anticapitalismo, que compartilhava com os comunistas. Alain de Benoist chegou a dizer que preferia o boné soviético à boina americana. Essa frase choca a direita tradicional, que discorda dessa posição e considera que a principal tarefa deveria ser a oposição à esquerda, e não ao capitalismo.


O movimento Jeune Europe esteve ativo nos anos 1960 em toda a Europa (especialmente na Itália) e até mesmo em alguns países do Oriente Médio, particularmente no Iraque de Saddam Hussein. Jean Thiriart planejava criar uma “Frente Europeia de Libertação” e defendia a necessidade de expulsar todas as bases americanas da Europa. Começou a reunir coletivos consideravelmente grandes de apoiadores e tentou unificá-los em um partido paneuropeu de Brigadas Europeias de ação direta antiamericanas, destinadas a atacar bases americanas e eliminar políticos pró-americanos. O movimento foi bastante popular nos anos 1960. O próprio Thiriart chegou a interagir com Nasser, Tito e Zhou Enlai.


Mas não recebeu apoio da URSS, e Moscou chegou a sinalizar a seus satélites que não colaborassem com Thiriart. Com isso, ele acabou praticamente isolado de todas as oportunidades que tentara usar para formar sua Frente Europeia de Libertação nos regimes pró-soviéticos.


Thiriart esteve na Rússia apenas uma vez, em 1992, pouco antes de sua morte. Morreu em novembro do mesmo ano. Esteve em Moscou em agosto. Durante sua viagem, encontrou-se com Zyuganov, Prokhanov, Dugin, Baburin, Alksnis e até mesmo Geydar Dzhemal (com quem discordava literalmente de tudo).


Notas:


Jean Thiriart, Europe: An Empire of 400 Million, trad. Alexander Jacob (Londres: Arktos, 2021).


Gennady Zyuganov (n. 1944) é um político russo que há muito tempo é líder do Partido Comunista da Federação Russa, que chefia desde 1993. É conhecido por sua firme defesa de políticas da era soviética e retórica nacionalista, posicionando-se como figura central na oposição política russa.


Alexander Prokhanov (n. 1938) é escritor, jornalista e figura política russa, frequentemente descrito como uma das principais vozes do ultranacionalismo russo. É editor do jornal Zavtra (Amanhã) e escreveu extensivamente sobre identidade russa, geopolítica e sua visão de uma Rússia poderosa e soberana.


Geydar Dzhemal (1947–2016) foi filósofo islâmico russo, ativista político e fundador do Partido do Renascimento Islâmico, conhecido por suas críticas à modernidade secular e defesa do pensamento político islâmico. Dzhemal foi um dos primeiros mestres de Alexander Dugin no círculo dissidente soviético de Yuzhinsky, embora suas visões filosóficas e políticas tenham divergido significativamente mais tarde.

sábado, 30 de agosto de 2025

Nacionalismo e Espiritualidade - Plínio Salgado

 


Nacionalismo sem espiritualismo não é nacionalismo, porque a concepção materialista da vida inspira o epicurismo egoísta, ou o estoicismo fatalista, e tanto um como outro são contrários ao sacrifício como finalidade mística e a ideia da Pátria se alimenta de sacrifícios por ela.


O materialismo gera ou o sentido individual da comodidade e do prazer como finalidade da existência, ou o sentido da subordinação aos sofrimentos e às situações consumadas.


O materialista epicurista só trata de si, tornando-se incapaz de sacrificar um interesse pelo supremo interesse nacional. O materialista estoico faz da dor, do padecimento, um ato com finalidade em si próprio, por conseguinte, um motivo de vitória do “eu”, em razão e no interesse do próprio “eu”.


Sob esse aspecto, o materialismo epicurista, gozador, confunde-se com o materialismo resignado, impassível, cético; um e outro se tornam o culto do egoísmo.


Não há uma terceira forma de materialismo. Por mais variadas que sejam as filosofias baseadas na matéria, todas elas, no fundo, submetem-se a uma dessas expressões do egoísmo. Ou a alegria dionisíaca do individualismo sem peias, ou o sorriso melancólico do individualismo represado. Egoísmo centrífugo, ou egoísmo centrípeto, um e outro negadores do Espírito Imortal, levam à dissociação do grupo natural, assim como levam à insubsistência do grupo nacional.


Pregar, portanto, nacionalismo sem espiritualismo, é lançar artificialmente ideias sem alma. É pretender criar um nacionalismo intelectual, sem a força do sentimento.

A Identidade e Cultura Estadounidense, a Geopolítica Americana, O Papel da Hispanoamérica; Venezuela como um Caráter Dialético entre a Modernidade e a Tradição no Continente - Camarada Valero

  A singularidade histórica dos Estados Unidos reside em sua constituição como uma anti-nação; isto é, uma ordem política onde a vontade del...