sábado, 27 de setembro de 2025

Jovem Europa: Jean Thiriart - Daria Platonova Dugina

 

Trecho do livro Uma Teoria da Europa de Daria Platonova Dugina


Além da Revolução Conservadora, a segunda influência essencial que devemos destacar em particular é Jean Thiriart (1922–1992). Thiriart foi um famoso político, intelectual e geopolítico belga que passou por diversos grupos políticos ao longo da vida. Começou na esquerda, depois teve simpatia pelo Nacional-Socialismo e, após a Segunda Guerra Mundial, adotou a posição do europeísmo integral. A partir daí, Thiriart exerceu uma influência decisiva sobre a “teoria da Europa” de Alain de Benoist. Nos anos 1960, Thiriart organizou o movimento Jeune Europe (Jovem Europa), no qual muitos dos membros mais antigos do GRECE — alguns ainda vivos hoje — chegaram a participar.


Para Thiriart, ao contrário de outros representantes da frente nacionalista da época, era “A Europa acima de tudo” — não a Bélgica, não a França, mas a Europa. “Viva a Europa!” e “A Europa é o valor supremo, o Império!” — Thiriart propunha pensar em termos desse potencial Império. O principal inimigo desse Império era o Ocidente anglo-saxão, capitalista e liberal-globalista. Antes de tudo, ele identificava o Ocidente com o americanismo. Ao mesmo tempo, Thiriart via mais um aliado no sistema comunista, pois a União Soviética combatia, em certa medida, o capitalismo e o impulso hegemônico proveniente do Ocidente.


Thiriart, assim como Alain de Benoist depois dele, opunha-se ferozmente à direita clássica, contra a qual declarava que a economia do lucro defendida pela velha direita era assassina, pois matava o homem e a cultura. A economia marxista também era inaceitável para Thiriart, por considerá-la uma utopia. Em contrapartida, desenvolveu uma teoria do potencial econômico voltada para o desenvolvimento natural das possibilidades regionais.


Thiriart defendia o nacionalismo federal. Em seus escritos, encontramos o desenvolvimento do tema da “autarquia dos grandes espaços”. Ele falava da necessidade de criar uma grande entidade geopolítica centralizada a partir da Europa, que fosse economicamente e ideologicamente independente.


Thiriart escreveu sobre si mesmo: “Sou um Nacional-Bolchevique europeu na tradição de Ernst Niekisch, inspirado pelos exemplos históricos de Joseph Stalin e Frederico II Hohenstaufen.”


Jean Thiriart também influenciou significativamente Alain de Benoist em outro aspecto: na questão da aceitação da União Soviética. Thiriart apresentou a fórmula ideológica da “Grande Europa de Dublin a Vladivostok”. Essa mesma fórmula, que hoje o nosso Presidente e outros políticos costumam repetir, é na verdade fruto de uma reflexão profunda sobre o papel da Europa e o das forças antiliberais, tanto de esquerda quanto de direita, na luta antiglobalista contra o imperialismo anglo-saxão e o atlantismo. Portanto, quando você ouvir a fórmula “Rússia e Europa de Dublin a Vladivostok”, saiba que estamos no espaço discursivo da Nova Direita ou de suas fontes.


Com frequência, pode-se encontrar a visão de que a Nova Direita era anticomunista. De fato, em parte era, mas também adotava o anticapitalismo, que compartilhava com os comunistas. Alain de Benoist chegou a dizer que preferia o boné soviético à boina americana. Essa frase choca a direita tradicional, que discorda dessa posição e considera que a principal tarefa deveria ser a oposição à esquerda, e não ao capitalismo.


O movimento Jeune Europe esteve ativo nos anos 1960 em toda a Europa (especialmente na Itália) e até mesmo em alguns países do Oriente Médio, particularmente no Iraque de Saddam Hussein. Jean Thiriart planejava criar uma “Frente Europeia de Libertação” e defendia a necessidade de expulsar todas as bases americanas da Europa. Começou a reunir coletivos consideravelmente grandes de apoiadores e tentou unificá-los em um partido paneuropeu de Brigadas Europeias de ação direta antiamericanas, destinadas a atacar bases americanas e eliminar políticos pró-americanos. O movimento foi bastante popular nos anos 1960. O próprio Thiriart chegou a interagir com Nasser, Tito e Zhou Enlai.


Mas não recebeu apoio da URSS, e Moscou chegou a sinalizar a seus satélites que não colaborassem com Thiriart. Com isso, ele acabou praticamente isolado de todas as oportunidades que tentara usar para formar sua Frente Europeia de Libertação nos regimes pró-soviéticos.


Thiriart esteve na Rússia apenas uma vez, em 1992, pouco antes de sua morte. Morreu em novembro do mesmo ano. Esteve em Moscou em agosto. Durante sua viagem, encontrou-se com Zyuganov, Prokhanov, Dugin, Baburin, Alksnis e até mesmo Geydar Dzhemal (com quem discordava literalmente de tudo).


Notas:


Jean Thiriart, Europe: An Empire of 400 Million, trad. Alexander Jacob (Londres: Arktos, 2021).


Gennady Zyuganov (n. 1944) é um político russo que há muito tempo é líder do Partido Comunista da Federação Russa, que chefia desde 1993. É conhecido por sua firme defesa de políticas da era soviética e retórica nacionalista, posicionando-se como figura central na oposição política russa.


Alexander Prokhanov (n. 1938) é escritor, jornalista e figura política russa, frequentemente descrito como uma das principais vozes do ultranacionalismo russo. É editor do jornal Zavtra (Amanhã) e escreveu extensivamente sobre identidade russa, geopolítica e sua visão de uma Rússia poderosa e soberana.


Geydar Dzhemal (1947–2016) foi filósofo islâmico russo, ativista político e fundador do Partido do Renascimento Islâmico, conhecido por suas críticas à modernidade secular e defesa do pensamento político islâmico. Dzhemal foi um dos primeiros mestres de Alexander Dugin no círculo dissidente soviético de Yuzhinsky, embora suas visões filosóficas e políticas tenham divergido significativamente mais tarde.

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