Atualmente, Ezequiel é militante ativo da Vanguarda Venezuelana e membro da Milícia Nacional Bolivariana. Além de contribuir para a discussão de temas nacionalistas e dissidentes no Centro de Estudos Minayba como colaborador.
Nesta entrevista, fizemos 5 perguntas para Ezequiel sobre a realidade de seu país e o papel dos Estados Unidos na desestabilização da Venezuela e de toda a América Latina.
1° Pergunta: Ezequiel, sabemos que a Venezuela enfrenta uma grande crise econômica e social, marcada pela imigração, pelo aumento dos preços dos insumos básicos, pelas sanções internacionais e pela instabilidade política. No Brasil, assim como em boa parte da América Latina, os meios hegemônicos atribuem a causa dessas crises aos governos chavistas. Você, como venezuelano que vive dentro da Venezuela, como analisa esse cenário?
Resposta: Bem, para começar, muito obrigado pela apresentação e pela oportunidade desta entrevista.
Assumir que a crise econômica e social e tudo o que você mencionou é meramente culpa do governo bolivariano, além de ser um erro, é um plano muito bem estruturado do imperialismo para criar fragmentações sociais internas em todo o território nacional. A Venezuela atualmente é o quarto país mais sancionado do mundo, apenas atrás da Rússia, do Irã e da RPDC. Os Estados Unidos e sua imprensa internacional, controlada em grande parte pelo sionismo, encarregaram-se de espalhar a mentira de que, supostamente, as sanções são apenas contra os mandatários do governo e certos indivíduos, o que é uma total falsidade. As sanções impedem o correto desenvolvimento do nosso país e afetam a todos os seus habitantes, ao impactar diretamente a economia.
Somos um país com apenas 28 milhões de habitantes, sem contar os que emigraram — quase a mesma quantidade de habitantes que São Paulo, por exemplo. Nosso país conta com riquezas incontáveis. Eu conversava há algum tempo com um engenheiro petroquímico de Brasília, por sinal, e ele me dizia que, com o petróleo, o ouro e outros minerais que temos aqui na Venezuela, era esperado que cada venezuelano tivesse uma Ferrari na garagem de casa.
As sanções também impedem que a Venezuela possa negociar corretamente seu petróleo, já que isso acarretaria represálias para qualquer nação que o comprasse fora dos Estados Unidos. Mas a questão petrolífera vem de muito tempo: aproximadamente em 1922 começou o auge do petróleo, embora sua descoberta tenha ocorrido em 1875, na Fazenda La Alquitrana. Em 1914, a Venezuela declarou oficialmente ao mundo suas vastas riquezas petrolíferas. Isso desencadeou a exploração por empresas estrangeiras que se aproveitaram do pouco conhecimento petroquímico existente no país naquele momento, extraindo grandes quantidades a preços absurdamente baixos.
Durante o período da Quarta República, os governos da Ação Democrática e da COPEI entregavam o petróleo aos Estados Unidos de bandeja, algo que não fazia, por exemplo, o nosso General Marcos Pérez Jiménez — a quem o próprio Chávez denominou como o melhor presidente da Venezuela. De 1952 a 1958, a Venezuela teve um de seus maiores desenvolvimentos econômicos, sociais, de infraestrutura e em geral em todos os aspectos, até que veio a Ação Democrática e realizou o golpe de 23 de Janeiro contra o General Marcos Pérez Jiménez. A partir daí começou a entrega do petróleo e a submissão ao imperialismo americano, da qual nos libertamos apenas em 1999, com Hugo Chávez no poder.
Desde então, a Venezuela vem eliminando os remanescentes capitalistas que ainda restavam no país. Se é verdade que ainda há uma parte considerável de burgueses infiltrados, inclusive no PSUV e nos ministérios, também é verdade que a Venezuela hoje está muito melhor em aspectos como soberania, orgulho nacional e, por último e mais importante, independência — esse conceito que nos deu vida como nação.
A Venezuela não é um país perfeito, e sim, é verdade que existe uma crise econômica. Mas ela é causada por agentes externos que prejudicam a saúde do povo. Também é verdade que elementos como a burguesia oportunista e usurária se infiltraram em instituições governamentais, como acontece em todo governo. Mas a Venezuela, hoje mais do que nunca, graças à Revolução Bolivariana, é uma pátria grande, independente e livre — e será muito mais quando nós, jovens nacionalistas que seguimos o caminho da revolução bolivariana, formos cada vez mais numerosos e contribuirmos para o desenvolvimento da pátria grande sonhada por Bolívar e Chávez. Isso mediante a união de um bloco econômico ibero-americano entre nações irmãs, impulsionando a unidade ibero-americana, a economia comunal e a contribuição para o projeto do Estado Nacional-Comunal e Popular.
Apesar de ter me estendido, esta nem sequer é a metade da análise que deve ser feita sobre a situação atual venezuelana, a qual, eu me atreveria a dizer, arrastamos desde nossa independência do Império Espanhol e a separação da Gran-Colômbia. Mas, sem dúvidas, serve para termos uma visão mais clara, para além das mentiras midiáticas do imperialismo americano-sionista.
2° Pergunta: Também temos visto um grande recrudescimento das tensões entre a Venezuela e os Estados Unidos. O presidente norte-americano Donald Trump chegou a considerar publicamente a possibilidade de uma intervenção militar no país. Ao mesmo tempo em que tais declarações foram feitas, vimos, na comunidade venezuelana espalhada pelos países da América Latina, um certo entusiasmo diante da possibilidade de uma deposição militar do presidente Nicolás Maduro. Você acredita que uma intervenção militar ianque na Venezuela seria uma solução para os problemas do país?
Resposta: Claro que não. Uma intervenção ianque na Venezuela não só não melhoraria em nada a situação venezuelana, como a pioraria, ao saquear todos os nossos recursos, destruir nossas cidades e violar nossas mulheres. OS TRAIDORES DA PÁTRIA que se alegram com uma intervenção estadunidense pensam que a única bomba que cairá será sobre a cabeça de Maduro e que bastaria tirar o governo do poder para, magicamente, tudo ficar bem com seu asqueroso governo neoliberal, entreguista e sionista sob tutela estadunidense — nada disso será verdade. Se as forças armadas dos Estados Unidos se atreverem a colocar um pé em território venezuelano, desencadear-se-á uma guerra iminente na qual os 8 milhões de venezuelanos que se alistaram na Milícia Nacional Bolivariana desde 23 de agosto, em conjunto com todos os organismos das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, daríamos nossa vida em combate para repelir as garras do imperialismo estadunidense e sionista. Caso contrário, a Venezuela seria destruída e sofreríamos massacres, como lembrando os que o imperialismo estadunidense-sionista já cometeu: o bombardeio de Dresden, Hiroshima e Nagasaki, os ataques aéreos da ONU à RPDC, entre muitas outras massacres contra povos.
Se me perguntares, indo a um extremo mais radical, todo venezuelano dentro do território nacional que peça a intervenção na Venezuela deve ser condenado a fuzilamento; e todo venezuelano que o faça fora do território nacional deve ter sua nacionalidade retirada e ser proibido de entrar novamente na Venezuela, pois estará pedindo que se assassine nossa pátria e nosso povo e que se viole a soberania nacional pela qual lutaram todos os nossos antepassados e os caídos nas lutas independentistas e anti-imperialistas. Como podes compreender, já não se trata de uma questão ideológica — se és chavista ou opositor — trata-se de defender a Pátria Grande de Bolívar. Claro que os opositores não entendem isso porque neles reside o neoliberalismo ligado ao sionismo internacional, que é puramente anti-nacional e antipatriótico.
3° Pergunta: Após as declarações de Trump, o presidente Nicolás Maduro afirmou que a Venezuela está pronta para resistir. Nos últimos anos de governos chavistas, o país armou e profissionalizou seu exército com modernos armamentos iranianos, chineses e russos. Mais recentemente, a Venezuela mobilizou e ampliou em grande escala a Milícia Bolivariana. Esse movimento chamou a atenção de outros países latino-americanos, especialmente do Brasil, pelo crescimento exponencial da capacidade defensiva venezuelana. Como você analisa a capacidade da Venezuela para resistir a uma eventual intervenção ianque?
Resposta: Mais do que o armamento e o profissionalismo, eu gostaria de interpretar isso como um aumento da vontade nacional do povo. É mais do que óbvio que a Venezuela não supera o exército estadunidense, que se construiu graças ao sangue de povos inocentes, ao contrário das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas; no entanto, isso não significa o nosso fim, pois nos apoiam outras grandes nações irmãs anti-imperialistas como Rússia, China e Irã. Façam o que fizerem, a Venezuela não perecerá, porque a Venezuela vencerá. No pior dos casos — se o sujo império estadunidense e sionista derrubar o governo bolivariano — Nós da juventude nacionalista nos organizaremos em guerrilhas e grupos armados de resistência bolivariana anti-imperialista e não nos importará derramar nosso sangue pela resistência nem o pranto de nossas mães, já que, antes de tudo e depois de Deus, está a pátria-mãe — mãe e pátria, as duas palavras mais belas que podem sair do coração do homem.
4° Pergunta: Para nós, que estamos fora da Venezuela e interagimos com a comunidade dissidente e nacionalista venezuelana, é perceptível que os nacionalistas fora do país tendem majoritariamente a ser fortemente antichavistas. Você acredita que, no atual momento decisivo da história venezuelana, um nacionalista deveria se posicionar a favor do governo de Nicolás Maduro?
Resposta: Claro que sim. Além disso, o nacionalista dissidente venezuelano deve deixar de ver a dicotomia chavismo/oposição e defender a pátria a qualquer custo, mesmo que isso envolva "ser chavista".
Mas já te digo de antemão que conheço muito bem esses grupos nacionalistas dissidentes anti-chavistas e posso afirmar que eles são apenas um ramo da oposição entreguista ao imperialismo. Que nacionalista sai para se drogar e causar estragos nas ruas, prejudicando o povo e pedindo uma intervenção militar estrangeira? Isso é algo que não deveria se passar na cabeça de um nacionalista dissidente. E acredite: não me importa nem um pouco as opiniões desses supostos nacionalistas que estão fora do país. Dentro da Venezuela está se manifestando uma onda de nacionalismo de caráter revolucionário, anti‑imperialista, bolivariano, militante, patriótico e disciplinado, que em muito pouco tempo superou o falso nacionalismo ou o pseudonacionalismo neoliberal, “pitiyanqui” e pró‑sionista.
Se me perguntas qual é a minha posição ou como eu me autodenominaria: sou um Nacionalista Socialista Revolucionário, anti‑imperialista e anti‑sionista — mas, antes de tudo, patriota. Acredito firmemente no nacionalismo militar e que o socialismo deve ser um complemento fundamental ao nacionalismo para que este não se torne um nacionalismo burguês, neoliberal e chauvinista. Acredito na liberdade dos povos soberanos e que a Venezuela deve ocupar seu lugar no mundo como a nação soberana e independente que conquistamos com tanta sangue, suor e luta dos nossos; a Venezuela é uma unidade de destino na história universal das nações soberanas e independentes.
Baseio‑me em um conceito que dizia Fidel Castro: "Dentro da Revolução tudo, contra a Revolução nada."
5° Pergunta: Para finalizar: os ianques não apenas ameaçaram a Venezuela, como também várias outras nações latino-americanas. Recentemente, o presidente Trump e seus aliados aprovaram um projeto no Congresso dos Estados Unidos destinado à “luta contra os governos extremistas de esquerda” na América Latina. No Brasil, também fomos ameaçados pelos estadunidenses com sanções, tarifas e até insinuações sobre o uso da força militar.
Que mensagem você deixaria aos nacionalistas dissidentes fora da Venezuela que sofrem as ameaças do império estadunidense?
Resposta: Pessoalmente, eu gostaria de dirigir a mensagem a todo nacionalista latino‑americano ou ibero‑americano, já que os falsos nacionalistas fora do país não me interessam nem um pouco, e aos verdadeiros nacionalistas dissidentes já disse o que tinha a dizer.
A todo nacionalista revolucionário da América Latina e da Península Ibérica: sejam decididos na vossa luta; não duvidem nem por um segundo na hora de defender a pátria. Todo organismo ou império tem seu tempo de vida e, cedo ou tarde, morre; nossas nações soberanas, independentes e revolucionárias prevalecerão à medida que o império ianque se enfraquece cada vez mais e se aproxima do seu fim. A juventude nacionalista deve exercitar‑se na luta física, deve querer a paz, mas amar sistematicamente a violência quando a defesa da pátria o exigir; deve haver um equilíbrio entre o treinamento físico combativo e o treinamento ideológico; deve ser letrada e militante para garantir a independência e a soberania do seu povo; deve buscar a unificação social e, se agentes estrangeiros a impedirem, purgá‑los o quanto antes do seu território nacional. O povo unido jamais será vencido; sigam o exemplo que todos os vossos heróis nacionais lhes deram. Na Venezuela seguiremos o caminho que Simón Bolívar e Hugo Chávez nos traçaram — por Cristo e por nossa Pátria Grande.
¡Venceremos!
A. Silva - Muito obrigado pela entrevista e pelo tempo que nos concedeu.
E. Guadama: - Muito obrigado a você também por esta oportunidade
A. Silva: - Você e seu movimento tem alguma rede social para recomendarmos para o nosso público?
E. Guadama: @ezequiel_guadama no instagram.


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