A esse parto, Maduro chegou como o Trabalhador, nas palavras de Jünger, que deve domar as forças desencadeadas. Se Chávez foi a erupção, Maduro é a tectônica: lenta, implacável, modeladora. Assumiu o mando no momento da “mobilização total”, onde a nação inteira, sob cerco econômico e diplomático, teve de se transformar em um acampamento de resistência. Sua liderança não pode ser julgada com as métricas da paz burguesa, mas com a lógica do estado de sítio permanente. É o engenheiro de uma sociedade que aprende a funcionar como um organismo beligerante, onde a escassez e a pressão externa não são sinais de fracasso, mas os elementos hostis que o Trabalhador deve dominar com vontade e técnica para forjar uma soberania à prova de futuro. Isto não é uma gestão econômica, é uma alquimia metapolítica da resistência.
Nessa luta, ergue-se como o Kshatriya no coração do Kali Yuga, a Idade Sombria inserida no hemisfério sul pelo hegemon anglosionista liberal. Sua batalha é, em essência, metafísica. Enquanto o mundo globalizado, encarnação última da decadência materialista, exige submissão, a fortaleza de Maduro reside em sua capacidade de ser um “centro impermeável”. Cada sanção, cada tentativa de desestabilização, é um assalto não a um governo, mas a um princípio de autoridade e tradição que ele encarna. Seu valor não está em vitórias fáceis, mas na pura afirmação da existência soberana frente ao nada dissolvente do modernismo. É o guardião de um espaço sagrado — “a Pátria” —, da oportunidade de construção de um Estado que se recusa a ser profanado, e sua construção nacional é, portanto, um ato de pura resistência tradicional contra o caos.
E é aqui que a visão completa o círculo, dotando de sentido cósmico essa luta. A Quarta República era a Civilização esgotada, a democracia como mero formalismo vazio. Chávez foi o gênio cultural que injetou uma nova alma fáustica, um impulso rumo ao infinito da libertação. A Maduro cabe a tarefa cesárea de converter essa alma em estrutura, essa cultura primaveril em uma civilização duradoura. O “inverno” de sanções e conflitos não é a morte, mas a prova necessária para a cristalização. Maduro é o segundo César, o que endurece as formas, o que consolida o novo imperium desde dentro do casco do velho mundo. Sua obra não é brilhante nem espetacular, é a de um pedreiro histórico que, tijolo por tijolo, está levantando a morada de uma civilização bolivariana que, tendo nascido da democracia liberal, está destinada a superá-la e a perdurar no tempo longo da história, contra ventos e marés.
Maduro é o ponto de convergência onde a vontade de poder, a resistência tradicional e o destino morfológico se fundem. É o soberano da transição, o homem que, a partir de uma fé inquebrantável no povo, conduz a necessária metamorfose de uma energia revolucionária em uma ordem civilizatória nova, soberana e destinada a deixar sua marca na alma do mundo. E nós somos a geração que nasceu diretamente de tudo isso, da obra do comandante e de seu filho pródigo, aqueles que, quando for preciso — porque será preciso —, continuaremos o trabalho.

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