Ao mesmo tempo, os filósofos liberais (em particular Mill) enfatizam que a “liberdade” que eles defendem é uma liberdade estritamente negativa. Mais ainda, eles separam “liberdade de” e “liberdade para”, sugerindo usar para estas duas diferentes palavras em inglês: “liberty” e “freedom”. “Liberty” implica liberdade em relação a algo. É daqui que o nome “liberalismo” é derivado. Os liberais lutam por esta liberdade e insistem nela. Quanto à “liberdade para” – isto é, o sentido e objetivo da liberdade – aqui os liberais ficam em silêncio, reconhecendo que cada indivíduo pode por si mesmo encontrar um meio de aplicar sua liberdade, ou ele pode negligenciar completamente a busca por um meio de usá-la. Essa é uma questão de escolha privada, que não é discutida e que não possui valor político ou ideológico. Por outro lado, a “liberdade de” é definida precisamente e possui um caráter dogmático. Os liberais propõem a liberdade em relação a:
O governo e seu controle sobre a economia, política e sociedade civil;
• A igreja e seus dogmas;
• Os sistemas de classe;
• Qualquer forma de áreas comunais de responsabilidade da economia;
• Qualquer tentativa de redistribuir com uma ou outra instituição governamental ou social os resultados do trabalho material ou imaterial (a fórmula do filósofo liberal Philip Nemo, um seguidor de Hayek: “A justiça social é profundamente imoral”);
• As ligações étnicas;
Qualquer forma de identidade coletiva.
Pode-se pensar que nós temos algum tipo de versão do anarquismo aqui, mas isso não é exatamente verdadeiro. Os anarquistas – ao menos aqueles como Proudhon – consideram como uma alternativa para o governo, o trabalho livre e comunal, com uma coletivização total de seus produtos e eles se pronunciam vigorosamente contra a propriedade privada, enquanto os liberais, por outro lado, veem no mercado e na sacralidade da propriedade privada um pacto para a realização de seu modelo socioeconômico ideal. Além disso, considerando teoricamente que o governo deve mais cedo ou mais tarde desaparecer, os liberais, por razões pragmáticas, apoiam o governo se ele for burguês-democrata, facilita o desenvolvimento do mercado, garante a segurança da “sociedade civil” e a proteção contra vizinhos agressivos, e afasta a “guerra de todos contra todos” (T. Hobbes).
Em tudo mais os liberais vão ainda mais longe, repudiando praticamente todas as instituições sociopolíticas, até a família e a diferenciação sexual. Nos casos extremos, os liberais apoiam não apenas a liberdade de aborto, mas até mesmo a liberdade de diferenciação sexual (apoiando os direitos de homossexuais, transexuais e daí em diante). A família, como outra forma de sociedade, é pensada por eles como sendo um objeto puramente contratual, como outras “empresas”, condicionada por acordos legais. Como um todo, os liberais insistem não apenas na liberdade em relação a tradição e a sacralidade (para mencionar formas prévias de sociedade tradicional), mas até mesmo na liberdade em relação a socialização e a redistribuição, nas quais as ideologias políticas de esquerda – socialistas e comunistas – insistem (para mencionar formas políticas que são contemporâneas do liberalismo ou pretendentes a seu trono)
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