Único entre os conspirólogos a realçar constantemente o carácter geopolítico da “conspiração mundial” ou, mais exactamente, as duas alternativas das “conspirações mundiais” (eurásica e atlantista), encontramos Jean Parvulesco, talentoso escritor, poeta e metafísico francês, autor de numerosos trabalhos literários e filosóficos.
Durante a sua longa vida, extremamente rica em acontecimentos, conviveu pessoalmente com numerosas figuras eminentes da história europeia e mundial, entre os quais os representantes da “história oculta e paralela” - místicos, maçons de primeiro plano, cabalistas, esotéricos, agentes secretos de diversos serviços especiais, ideólogos, políticos e artistas (nomeadamente foi amigo de Ezra Pound, Julius Evola, Arno Brecker, Otto Skorzeny, Pierre de Villemarest, Raymond Abellio, etc.).
Tendo ouvido falar da especifidade dos nossos estudos conspirológicos, Parvulesco forneceu-nos certos documentos classificados como estritamente confidenciais, que nos permitiram descobrir numerosos detalhes importantes da conspiração geopolítica planetária.
Os materiais que dizem respeito à actividade das organizações ocultas secretas da Rússia apresentam um particular interesse.
Na descrição que se segue, tentaremos expor os aspectos mais interessantes da concepção de Parvulesco.
A 24 de Fevereiro de 1989 em Lausanne, perante os membros do conselho de administração do misterioso Instituto de Estudos Metaestratégicos Especiais Atlantis, Jean Parvulesco apresentou um relatório sobre o curioso título de A Galáxia do GRU, subintitulado “A Missão Confidencial de Mikhaïl Gorbatchev, a URSS e o Porvir do Grande Continente Europeu”. Neste relatório - do qual Parvulesco nos transmitiu uma cópia - analisava o papel oculto do serviço de informações militar soviético chamado GRU (Glavnoé Razvedivatelnoié Upravlenié, Serviço de Informações Principal), e os laços do GRU com a ordem secreta da Eurásia. Como referência, Parvulesco escolheu o livro do especialista bem conhecido dos serviços especiais soviéticos, o famoso agente da contra-espionagem francesa e director do Centro de Documentação Europeu, Pierre de Villemarest, que em 1988 publicou em França o best-seller GRU, O Mais Secreto dos Serviços Soviéticos, 1918-1988.
O modelo conspirológico do próprio Villemarest pode resumir-se como se segue: “O KGB é uma continuação do partido, o GRU é uma extensão do exército”. Desde logo, por definição, o exército defende o Estado, o KGB defende o partido. O KGB é guiado pelo princípio “o patriotismo está ao serviço do comunismo”, enquanto que o exército é guiado pelo principio oposto “o comunismo está ao serviço do patriotismo”. A partir desta lógica de oposição entre GRU e KGB, na sua qualidade de mais secretos centros do poder bipolar na URSS (o exército e o partido), Villemarest construiu uma bem argumentada e fascinante narração da história do GRU.O sentido secreto da história invisível da URSS, da Revolução de Outubro à Perestroika, deve ser procurado na rivalidade dos “vizinhos” - o GRU, o “Aquário” ou “Secção Militar 44.388” em Khodynka, e o KGB, o “serviço”, na Lubianka. Mas qual é a ligação entre estes serviços especiais rivais e as duas ordens geopolíticas planetárias, ainda mais secretas e ocultas que os serviços de informações mais secretos?
Segundo Parvulesco, a Ordem Eurásica esteve particularmente activa na Rússia no principio do século XX. Entre os seus representantes, contavam-se o Dr. Badmaiev de S.
Petersburgo, o Barão Ungern von Sternberg, os superiores escandinavos secretos de Rasputine (assinando as suas mensagens cifradas sob o pseudónimo de “Vert”) e muitas outras personagens menos conhecidas. É necessário igualmente realçar o papel particular do futuro marechal Mikhaïl Toukhatchevski que, segundo Parvulesco, foi iniciado na misteriosa Ordem Polar durante a sua estada no campo de prisioneiros alemão de Ingolstadt - onde, curiosamente, justamente no mesmo período de 1916-1918, encontramos outras figuras maiores da história moderna: o general de Gaulle, o general von Ludendorff e o futuro papa Pio XII, monsenhor Eugenio Pacelli.
Este grupo de místicos geopolíticos russos, passou mais tarde o testemunho ao regime bolchevique, mas sobretudo aos esotéricos de tendência continental agrupados no exército, nas suas estruturas, onde havia um número significativo de antigos oficiais do império que se tinham juntado às fileiras dos vermelhos para mudar a atitude niilista dos bolcheviques a longo prazo, e para criar a Grande Potência Continental utilizando os comunistas, pragmaticamente possuídos pela ideia messiânica.
O que importa é que entre os vermelhos haviam alguns agentes da Ordem Eurásica executando uma missão continental secreta (é curioso que o famoso bandido vermelho Kotovsky tenha sido um anarquista de esquerda, ocultista e místico, e que certas passagens particulares da sua biografia justifiquem a opinião de que no seu caso tenha tido contactos com a Ordem Eurásica).
Assim sendo, entre os eurásicos russos pré-revolucionários e pós-revolucionários, existiu uma continuidade.
A criação do Exército Vermelho deveu-se aos agentes da Eurásia; e a este respeito é curioso recordarmo-nos de um acontecimento histórico, a saber que vinte e sete dias após a criação do Quartel General do Exército Vermelho na Frente Leste (10 de Julho de 1918), uma equipa de tchekistas o tenha atacado liquidando todos os seus membros, incluindo o Comandante em Chefe.
A feroz guerra entre os “eurásicos vermelhos” do exército e os “atlantistas vermelhos” da Tcheka de Djerdjinski não parou um só minuto desde os primeiros dias da história soviética.
Mas a despeito das vítimas, os agentes da Ordem Eurásica entre os vermelhos não abandonaram a sua missão. Um triunfo dos eurásicos foi, em 1918, a criação do GRU no seio do Exército Vermelho, sob a direcção de Semion Ivanovitch Aralov, antigo oficial do império ligado às informações militares até 1917. Mais precisamente, Aralov era o chefe do departamento operacional do Vseroglavstab (Estado Maior Pan-Russo), cujo serviço de informações era uma das suas partes constitutivas. O particularismo da sua actividade, essa misteriosa imunidade, quase mítica, da qual este homem beneficiou toda a sua vida atravessando as “purgas” mais minuciosas (morreu de morte natural a 22 de Maio de 1969), e também outros detalhes da sua biografia levam-nos a ver em Aralov o homem da ordem continental.
Segundo Parvulesco, a fieira russa da Ordem Eurásica depois da revolução foi estabelecida no Exército Vermelho, mais precisamente, no seu departamento mais secreto: o GRU. Mas isto somente dizia respeito, é claro, aos eurásicos vermelhos.
Os eurásicos “brancos” na Europa juntaram-se geralmente aos nacionalistas alemães, encontramos representantes desta ordem na Abwehr. E mais tarde nas secções estrangeiras das SS e do SD (particularmente no SD, cujo chefe Heydrich era ele próprio um eurásico convicto, razão pela qual tombou vítima das intrigas do atlantista Canaris). A revolução dividiu os russos entre “vermelhos” e “brancos”, mas por detrás dessa divisão política formal havia uma misteriosa partição geopolítica diferente, entre as zonas de influência das duas ordens secretas - a atlântica e a eurásica. Na Rússia vermelha, os atlantistas estavam agrupados em volta da Tcheka e do partido, se bem que antes da nomeação de Khrushchev nenhum atlantista declarado tenha jamais ocupado o posto de secretário-geral (Lenine e Estaline eram eurásicos, ou pelo menos, estavam submetidos a uma forte influência por parte dos agentes da Ordem Eurásica).
Entre a imigração russa branca, os atlantistas não eram menos numerosos que na própria Rússia, e à parte dos espiões ingleses evidentes - de liberais tal como Kerenski e de outros democratas e sócio-democratas - mesmo na área da extrema-direita, dos monárquicos, o lobby atlantista era extremamente forte - pertencia-lhe mesmo um filósofo “de direita” como Berdiaev, e muitos outros (a esmagadora maioria dos emigrados russos que foram para os Estados Unidos estava ligada a esta tendência geopolítica). Num dado momento, no principio dos anos 30, a rede dos agentes do GRU na Europa e particularmente na Alemanha penetrou profundamente nas estruturas dos serviços de informação alemão e francês, tendo a rede do GRU levado a melhor sobre a rede dos agentes do KNVD e mais tarde do KGB. Os agentes do GRU penetraram antes de tudo nas estruturas do exército e por vezes a plataforma eurásica fez com que o pessoal do GRU e outros agentes secretos europeus não fossem tão inimigos, mas antes aliados, colaboradores, preparando secretamente (mesmo à revelia dos seus próprios governos) um novo projecto continental. Novamente aqui falamos não de agentes duplos, mas da convergência de interesses geopolíticos mais elevados.
Assim, na Alemanha, o GRU entrou em contacto com um certo Walter Nikolaï, chefe do “Gabinete para a Questão Judaica”. Graças a ele, o GRU teve acesso às mais altas esferas da direcção da Abwehr, das SS e do SD. A figura central desta rede era o próprio Martin Bormann (este facto foi bem conhecido pelos Aliados após as descobertas do Processo de Nuremberga, e muitos de entre eles estavam certos que Bormann após 1945 estava precisamente escondido na URSS. Tem-se por certo que o próprio Walter Nikolaï passou realmente para o lado russo em Maio de 1945).
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