segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A "Redpill" à luz do Tradicionalismo - Alexander Markovics

 


Os chamados "ativistas dos direitos dos homens/MGTOW" nada mais são do que o lado negativo do feminismo. Eles são como uma úlcera que é preciso remover completamente e combater intelectualmente do pensamento europeu.

O patriarcado no sentido ideal da civilização indo-européia não consiste em excluir as mulheres de todas as esferas da sociedade, mas em integrá-las a uma ordem patriarcal (!!!). Pois quem exclui a mulher da vida aceita a morte de seu próprio povo e de toda ordem. Homem e mulher se complementam no sentido de uma ordem orgânica. Eles são diferentes, mas não inimigos. Só juntos podem criar vida, quem os incita uns contra os outros celebra um culto à morte.

Ao restaurar uma ordem patriarcal, trata-se de tornar valores como sabedoria, defesa e honra as estrelas-guia da sociedade, não de suprimir qualquer forma de autoconfiança feminina como na ilusão do machismo maníaco.

Isso, por sua vez, também significa promover as mulheres em sua feminilidade autoconfiante, não tornando-as escravas dos homens. Atrás de homens fortes estão mulheres fortes, não capachos humanos.

Uma nova feminilidade no sentido de uma feminilidade autoconfiante deve ser conscientemente promovida aqui. Nesse ponto, Palas Atena (a mulher valente e sábia) e Deméter (a mãe) podem ser nomeadas como ideias patriarcais de feminilidade, que formam um forte contraponto às ideias materialistas-pós-modernas de feminilidade.

O homem (pós-)moderno tem de ir em frente e trabalhar-se, aperfeiçoar-se, para poder voltar a assumir os papéis tradicionais de profeta e filósofo, herói e guerreiro, agricultor e pai de família. Em última análise, se a tensão e a atração entre homem e mulher devem se desenvolver, ela também precisa de representantes de ambos os sexos que incorporem precisamente essas ideias tradicionais de masculinidade e feminilidade. No final, são necessários homens e mulheres fortes para fazer as famílias funcionarem.

Por último, mas não menos importante, trata-se também de educar as mulheres para serem futuras mães de homens fortes — uma tarefa difícil de alcançar devido à sua opressão.

A falta de empatia para com o sexo oposto ou outras pessoas não é um sinal de força, mas sim uma prova flagrante do próprio nada e fraqueza. Por último, mas não menos importante, o papel do homem é também o do protetor, que ele como homem também deve perceber se não quiser afundar no correio.

Qualquer um que torne as mulheres más — e não o feminismo pós-moderno, que deliberadamente abusa delas e destrói a feminilidade — torna-se cúmplice na batalha entre os sexos na destruição do gênero e dos modelos tradicionais.

Tanto o feminismo quanto o movimento MGTOW só podem pensar em homens e mulheres em perversões — lá o macho puramente instintivo, lá a mulher absolutamente voltada para a carreira e o princípio do prazer — que, devido à sua fixação no material, não podem realmente exercer o papel de pai ou mãe.

O retorno da Europa à sua tradição só terá sucesso se deixar para trás essas caricaturas pós-modernas de homem e mulher e revitalizar as noções tradicionais de masculinidade e feminilidade.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

O Guerrilheiro Urbano - Carlos Marighella

 


"O guerrilheiro urbano somente pode ter uma forte resistência física se treinar sistematicamente. Não pode ser um bom soldado se não estudou a arte de lutar. Por esta razão o guerrilheiro urbano tem que aprender e praticar vários tipos de luta, de ataque e de defesa pessoal. 

 Outras formas úteis de preparação física são caminhadas, acampar, e treinar sobrevivência na selva, escalar montanhas, remar, nadar, mergulhar, pescar, caçar pássaros, e animais grandes e pequenos. 

 É muito importante aprender a dirigir, pilotar um avião, manejar um pequeno bote, entender mecânica, rádio, telefone, eletricidade, e ter algum conhecimento das técnicas eletrônicas. 

 Também é importante ter conhecimentos de informação topográfica, poder localizar a posição através de instrumentos ou outros recursos disponíveis, calcular distâncias, fazer mapas e planos, desenhar escalas, calcular tempos, trabalhar com escalonamentos, compasso, etc. 

 Um conhecimento de química e da combinação de cores, a confecção de selos, o domínio da arte da caligrafia e de copiar letras em conjunto com outras habilidades são parte da preparação técnica do guerrilheiro urbano, que é obrigado a falsificar documentos para poder viver dentro de uma sociedade que ele busca destruir. 

 Na área de medicina auxiliar ele tem o papel especial de ser doutor ou entender de medicina, enfermaria, farmacologia, drogas, cirurgia elementar, e primeiros socorros de emergência. 

 A questão básica na preparação técnica do guerrilheiro urbano é o manejo de armas, tais como a metralhadora, o revólver automático, FAL, vários tipos de escopetas, carabinas, morteiros, bazucas, etc. 

 O conhecimento de vários tipos de munições e explosivos é outro aspecto a considerar. Entre os explosivos, a dinamite tem que ser bem entendida. O uso de bombas incendiárias, de bombas de fumaça, e de outros tipos são conhecimentos prévios indispensáveis.

sábado, 19 de outubro de 2024

Golbery do Couto e Silva - Júlio José Chiavenato

 


Antes de examinar as ideias do general Golbery, convém entender de que geopolítica se trata. A geopolítica do general Golbery não é uma “ciência” e interessa-nos a sua prática no Brasil. Aqui, como na Alemanha pós-década de 1920, ela transformou-se em importante auxiliar daqueles que defendiam um Estado autoritário. Forneceu, juntamente com a Doutrina de Segurança Nacional, a base ideológica da ditadura. Poucos historiadores analisam tal geopolítica como um dos componentes principais do golpe militar de 64. Por ser incoerente e sustentar ideias anacrônicas e absurdas, não desperta respeito. No entanto, considerando o resultado do seu uso, ela desempenhou um papel fundamental. Principalmente porque essas ideias, elaboradas de acordo com um paralogismo que caiu como uma luva para os militares, foram aplicadas.

Em seu livro Geopolítica do Brasil [10], o general Golbery afirma que vivíamos uma guerra universal, permanente, uma luta entre o Bem e o Mal. O Bem, certamente, corresponderia à liberdade defendida pelas democracias ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos. E o Mal estaria no comunismo que a (extinta) União Soviética desejava impor ao mundo. Se não entendêssemos essa “esfinge”, sucumbiríamos. A linguagem do general é apocalíptica:

Essa é a guerra — total, permanente, global, apocalíptica — que se perfila, desde já, no horizonte sombrio de nossa agitada época. E só nos resta, nações de qualquer quadrante do mundo, prepararmo-nos para ela, com determinação, com clarividência e com fé.

Para vencer a terrível batalha internacional que se avizinhava, seria necessário preparar internamente a nação. Seria preciso implantar a Doutrina de Segurança Nacional e, para isso, decidir-se por uma escolha vital. O conselho do general inspira-se no ministro nazista Goering, que ele cita sem o menor pudor:

Essa é a origem de um novo dilema — o do bem-estar e o de Segurança — assinalado por Goering em dias passados, sob a forma menos justa mas altamente sugestiva de seu conhecido slogan: ‘mais canhões e menos manteiga’. E, na verdade, não há forma de eludir a necessidade de sacrificar o bem-estar em proveito da Segurança, sob condição de que esta se veja realmente ameaçada. Os povos que se negaram a admiti-lo aprenderão no pó da derrota a lição merecida.

A aplicação da sua geopolítica, colocando a Segurança acima do bemestar, previa uma aliança internacional que se submetesse à supremacia do mais forte. No momento em que o governo João Goulart anunciou medidas que levariam, no plano econômico, ao fim da interferência dos Estados Unidos, as ideias do general Golbery ganharam força, inicialmente dentro da ESG e, a partir daí, entre as elites sociais e econômicas.

Citando geopolíticos como Ratzel, que contribuíram para fortalecer a ideologia nazista, o general afirma que:

Os países fortes tornam-se cada vez mais fortes, e os fracos, mais fracos a cada dia; as pequenas nações se veem repentinamente reduzidas à humilde condição de estados pigmeus e já se lhes profetiza abertamente um final obscuro, sob a forma de inevitáveis integrações regionais; a equação de poder do mundo se simplifica (…) a apenas raras constelações feudais de estados-barões rodeados de satélites e vassalos.

Isso quer dizer: quem se aliar ao grande líder poderá se transformar em estado-barão, assimilando geograficamente ou dominando economicamente os vizinhos fracos. Essa avaliação, carinhosamente acalentada pelos adeptos das teorias do general Golbery, deu origem ao tão denunciado “expansionismo brasileiro”. Tal tendência, implícita na geopolítica de Golbery, concretizou-se depois do golpe, derrubando governos na Bolívia, explorando economicamente o Paraguai (inclusive pela ocupação das suas áreas fronteiriças ao Brasil), planejando a invasão do Uruguai e, ainda, oferecendo homens e estratégia para derrubar Salvador Allende, presidente constitucional do Chile.

A conjugação de vários fatores — econômicos, políticos, sociais e ideológicos — fortaleceu a geopolítica e a Doutrina de Segurança Nacional disseminadas pela ESG. Convém lembrar que o general Golbery não era apenas um teórico, mas um grande organizador, como atestam as suas atuações no Ibad–Ipes, no SNI e à sombra dos governos militares. Assim, é impossível não valorizar a sua geopolítica como forma de veicular o conteúdo das raízes do golpe de 64.

Como seria possível o Brasil tornar-se um estado-barão e exercer a liderança no Cone Sul?

Segundo as ideias do general Golbery, a receita era simples, e cínica dentro de uma brutal sinceridade: entregando as nossas riquezas aos Estados Unidos, que nos dariam, em recompensa, o direito de aplicar a força contra os vizinhos vassalos. De acordo com Golbery:

(…) quando entre nossos vizinhos hispano-americanos recrudesce indisfarçável uma oposição aos Estados Unidos que se mascara de Terceira Posição ou que outro rótulo tenha (…) o Brasil parece estar em condições superiores, por sua economia não competitiva, por sua larga e comprovada tradição de amizade e, sobretudo, pelos trunfos de que dispõe para uma barganha leal — o manganês, as areias monazíticas, as posições estratégicas do Nordeste e da embocadura amazônica com seu tampão da Marajó — de negociar uma aliança bilateral mais expressiva, que não só nos assegure os recursos necessários para concorrermos substancialmente na segurança do Atlântico Sul e defendermos, se for o caso, aquelas áreas brasileiras tão expostas a ameaças extracontinentais contra um ataque envolvente ao território norte-americano via Dacar–Brasil–Antilhas.

Para o general Golbery, havia uma ameaça contra os Estados Unidos que nos envolvia. A “segurança” do Brasil dependeria, portanto, da nossa cooperação na defesa do território norte-americano. Não importa o absurdo da interpretação, mas os resultados práticos que essa análise implicou. O general sugere que ofereçamos o território brasileiro do Nordeste como base militar aos Estados Unidos, para deter o hipotético “ataque” comunista que viria da África. Com uma ressalva: “Mas, por outro lado, o direito de utilização de nosso território, seja para o que for, é um direito exclusivo de nossa soberania que não devemos, de nenhuma forma, ceder por um prato de lentilhas”.

Se não seria por “um prato de lentilhas”, em troca de que cederíamos o Nordeste?

Em troca de exercermos, com o apoio dos Estados Unidos, o nosso “destino manifesto” de influir no Cone Sul. Para viabilizar esse objetivo, Golbery defendia a teoria das “fronteiras ideológicas”. A segurança do Brasil exigiria, além de fronteiras físicas, limites “ideologicamente” instalados nos governos “exóticos” de vizinhos com regimes contrários ao nosso. Tal situação nos daria autoridade para intervir, mesmo militarmente, derrubando-os.

Isso pode parecer um plano insano, mas teve papel importante no modelo que se implantou no Brasil e aplicou as suas ideias, interferindo diretamente nos países do Cone Sul. E o general ia além, afirmando que a atuação brasileira poderia se estender à África:

(…) devemos preparar-nos, na América Latina, para dar uma mão a qualquer de nossos vizinhos, na defesa de um inigualável patrimônio comum, contra qualquer investida exótica. Como segunda prioridade, devemos aprontar-nos também para cooperar, se for necessário, na defesa da África, contra um expansionismo soviético que desde já nos ameaçará diretamente.

Na sequência, Golbery propõe, como “prioridade 3”, ajudar até a Europa a se defender da “covarde ideologia comunista”, chegando a sugerir que se auxiliasse Portugal a manter as suas colônias na África. Não fosse o receio de ocupar muito espaço, poderíamos continuar citando o general. No entanto, o que vimos até aqui já é suficiente para a nossa análise.


sábado, 12 de outubro de 2024

O Trabalho - Frithjof Schuon

 

Responderemos em primeiro lugar que o "mundo trabalhador" é uma criação totalmente artificial, devida à máquina e à vulgarização científica que a esta se liga; dito de outro modo, a máquina cria infalivelmente o tipo humano artificial que é o "proletário", ou antes, ela cria um "proletariado", pois se trata, em tal caso, essencialmente de uma coletividade quantitativa e não de uma "casta" natural, ou seja, tendo seu fu n damento em determinada natureza individual. Se se pudesse suprimir as máquinas e reintroduzir o antigo artesanato com todos os seus aspectos de arte e de dignidade, o "problema do trabalhador" deixaria de existir; isto é verdadeiro mesmo para as funções puramente servis ou os ofícios mais ou menos quantitativos, pela simples razão de que a máquina é in umana e anti-espiritual em si. A máquina mata, não somente a alma do trabalhador, mas a alma como tal, portanto também a do explorador: o par explorador-trabalhador é inseparável do maquinismo, pois o artesanato impede esta alternativa grosseira por sua própria qualidade humana e espiritual. O un iverso maquinista é acima de tudo o triunfo da ferragem pesada e dissimulada; é a vitória do metal sobre a madeira, da matéria sobre o homem, da astúcia sobre a inteligência;8 expressões tais como "massa", "bloco", "choque", tão fr eqüentes no vo c abulário do homem industrializado, são totalmente significativas para um mundo que está mais perto dos insetos do que dos humanos. Não há nada de surpreendente no fato de que o "mundo do trabalhador", com sua psicologia "maquinista-cienticista-materialista", seja particularmente impermeável às realidades espirituais, pois ele pressupõe uma "realidade ambiente" totalmente factícia: ele exige máquinas, portanto metal, bulício, forças ocultas e pérfidas, uma ambiência de pesadelo, do vaivém ininteligível, em uma palavra, uma vida de insetos na feiúra e na trivialidade; no interior de tal mundo, ou antes de tal "cenário", a realidade espiritual aparecerá como um ilusão patente ou um luxo desprezível. Em não importa qual ambiência tradicional, ao contrário, é o problematismo "trabalhador" - portanto maquinista - que não teria mais nenhuma força persuasiva; para torná-lo verossímil, é preciso portanto começar por criar um mundo de bastidores que lhe corresponda, e cujas formas mesmas sugerem a ausência de Deus; o Céu deve ser inverossímil, falar de Deus deve soar falso.9 Quando o trabalhador diz que não tem "tempo para rezar", ele não está muito errado, pois não faz senão exprimir assim tudo o que sua condição tem de inumano, ou digamos de "infra­ humano"; os antigos ofícios, por sua vez, eram eminentemente inteligíveis, e não privavam o homem de sua qualidade humana, a qual implica por definição a faculdade de pensar em Deus. 

Alguns objetarão sem dúvida que a indústria é um "fato" e que é preciso aceitá-la como tal, como se esse caráter de fato tivesse primazia sobre a verdade; considera-se habitualmente como "coragem" e "realismo" o que é exatamente o contrário, ou seja: 

porque ninguém pode impedir determinada calamidade, ela é chamada de "bem" e é glorificada a incapacidade de se lhe escapar. O erro torna-se verdade porque ele "existe", o que está bem de acordo com o "dinamismo" - e com o "existencialismo" -da mentalidade maquinista; tudo o que existe pela cegueira dos homens se chama "nosso tempo", com uma nuance de "imperativo categórico". É por demais evidente que a impossibilidade de escapar de um mal não impede que este seja o que ele é; para encontrar um remédio, se a ocasião se apresenta, é preciso considerar o mal independentemente de nossas chances de escapar a ele ou de nosso desejo de não o ver, pois um bem não poderia se produzir de encontro à verdade.

É um erro comum -e característico para a mentalidade "positiva" ou "existencialista" de nossa época - crer que a constatação de um fato depende do conhecimento das causas ou dos remédios, conforme o caso, como se o homem não tivesse o direito de ver o que ele não pode nem explicar nem modificar; chama-se "crítica estéril" à indicação de um mal e esquece-se que o primeiro passo para uma eventual cura é a constatação da doença. Seja como for, toda situação oferece a possibilidade, senão de uma solução objetiva, ao menos de uma reação subjetiva, de uma libertação pelo espírito; quem compreende a verdadeira natureza do maquinismo, escapará por isso mesmo das servidões psicológicas da máquina, o que já é muito. Dizemos isto sem nenhum "otimismo", e sem perder de vista que o mundo atual é um "mal necessário" cuja raíz metafísica está, em última análise, na infinitude do Possível divino. 

Mas há outra objeção que é preciso levar em conta: alguns dirão que sempre houve máquinas e que as do século XIX são simplesmente mais perfeitas que as outras, mas esse é um erro radical que se encontra sempre, sob diversas formas; é uma falta de senso das "dimensões" ou, dito de outro modo, é não saber distinguir entre diferenças qualitativas ou eminentes e diferenças quantitativas ou acidentais. Um antigo tear, por exemplo, por mais perfeito que seja, é uma espécie de revelação e um símbolo cuja inteligibilidade permite à alma "respirar", enquanto que a máquina é propriamente "sufocante"; a gênese do tear está ligada à vida espiritual - o que se percebe, aliás, em sua qualidade estética -, enquanto uma máquina moderna pressupõe ao contrário um clima mental e um trabalho de investigação que são incompatíveis com a santidade, sem falar de seu aspecto de artrópodo gigante ou de caixa mágica, o qual também tem um valor de critério; um santo pode construir ou aperfeiçoar um moin h o d'água ou de vento, mas nenhum santo pode inventar uma máquina, precisamente porque o progresso técnico implica uma mentalidade contrária à espiritualidade, critério que aparece com uma evidência brutal, como dissemos, nas próprias formas das construções mecânicas.10 Precisaremos que, no domínio das formas como no do espírito, é falso tudo o que não está de acordo nem com a natureza virgem, nem com um santuário; toda coisa legítima tem, por um lado, algo da natureza e, por outro, algo do sagrado. Uma característica surpreendente das máquinas é que elas devoram matérias - geralmente telúricas e tenebrosas -, em vez de serem postas em movimento pelo homem apenas ou por uma força natural tal como a água ou o vento; é-se obrigado a saquear a terra para fazê-las "viver", o que não é o menor aspecto de sua função de desequilíbrio. É preciso ser muito cego para não ver que nem a rapidez nem a superprodução são bens, sem falar da proletarização do povo e do afeamento do mundo; mas o argumento de base continua a ser o que enunciamos em primeiro lugar, a saber, que a técnica só pode nascer em um mu n do sem Deus - um mundo no qual a astúcia substituiu a inteligência e a contemplação.

sábado, 5 de outubro de 2024

O Tempo e o Mito do Progresso - Alexander Dugin

 

A Quarta Teoria Política descarta completamente a ideia de irreversibilidade da história. O tempo é um fenômeno social; sua estrutura não depende dos caracteres do objeto, mas da dominação de paradigmas sociais, porque o objeto é designado pela própria sociedade. Na sociedade moderna, o tempo é visto como irreversível, progressivo e unidirecional.

Mas isso não é necessariamente verdade dentro de sociedades que não aceitam a Modernidade. Em algumas sociedades sem uma concepção estritamente moderna do tempo, concepções cíclicas e até mesmo regressivas do tempo existem. Por isso, a história política é considerada na topografia de várias concepções do tempo para a Quarta Teoria Política. Há tantas concepções de tempo, quanto há sociedades.


A Quarta Teoria Política não descarta o progresso e modernização simplesmente, porém. Essa teoria contempla o progresso e a modernização relativa e intimamente conectada com as atuais ocasiões semânticas históricas, sociais e políticas, como na Teoria Ocasionalista. O progresso e a modernização são reais, mas relativos, não absolutos. Nós estamos falando sobre fases específicas, mas não sobre a marca absoluta da história. É por isso que a Quarta Teoria Política sugere versões alternativas de história política baseada no Ocasionalismo sistematizado.

A Quarta Teoria Política usa uma concepção socialmente dependente de tempo reversível. No contexto da modernidade, voltar de algum ponto da história para um ponto anterior é impossível. Mas é possível no contexto da Quarta Teoria Política. A ideia do Novo Medievo de Berdyaev é um tanto aplicável.

Sociedades podem ser variadamente construídas e transformadas. A experiência dos anos 90 é bem demonstrativa disso: as pessoas na URSS tinham certeza que o socialismo procederia do capitalismo, mas não vice versa.

Porém na década de 90, eles viram o oposto; capitalismo seguindo socialismo. É bem possível que a Rússia ainda poderia ver o feudalismo, uma sociedade escravagista, bem como o comunismo ou a sociedade primordial emergir depois disso.

 Aqueles que riem disso são cativos do Moderno e de sua Reconhecendo a reversibilidade do tempo político e histórico, nós chegamos a um novo ponto de vista pluralista dac iência política e alcançamos a perspectiva avançada necessária para a construção ideológica.


Solitude - Mário Ferreira dos Santos

  O homem superior é um solitário. Na época atual do homem-massa, em que o gosto se generaliza num sentido de perspectiva comum, de anseios ...