Chegou a hora de revelar a verdade, de expor a essência espiritual do que as pessoas lambe-botas ordinárias chamam de “extremismo político”. Nós as confundimos suficientemente mudando os rótulos de nossas simpatias políticas, as cores de nossos heróis, e passando do fogo ao frio, do “direitismo” ao “esquerdismo” e vice-versa. Tudo isso não foi senão uma barragem de artilharia intelectual, uma espécie de aquecimento ideológico.
Nós assustamos e tentamos a extrema-direita e a extrema-esquerda, e agora ambas, e outros, perderam seu rumo, separados dos trilhos destruídos. Isso é incrível. Como o grande Evgeniy Golovin gostava de repetir: “Aquele que vai contra o dia, não deve temer a noite.” Não há nada mais agradável do que o solo escapando por debaixo de seus pés. Isso é a primeira experiência de voo. Isso mata os vermes. Forja os anjos.
Quem somos nós, realmente? De quem é o rosto ameaçador que espreita mais claramente do movimento político paradoxal e radical com o nome aterrorizante de “nacional-bolchevismo”? Hoje nós podemos responder sem qualquer ambiguidade ou vagueza. Mas isso exige uma breve excursão pela história do espírito.
A humanidade sempre teve dois tipos de espiritualidade, dois caminhos – o “Caminho da Mão Direita” e o “Caminho da Mão Esquerda.” O primeiro é caracterizado por uma atitude positiva em relação ao mundo que nos rodeia, no qual harmonia, equilíbrio, alegria e paz são vistos. Todo o mal não é senão uma instância particular, um desvio local da norma, algo insignificante, transitório, sem causas profundas, transcendentais. O Caminho da Mão Direita também é chamado o “Caminho do Leite.” Ele não sujeita o homem a nenhum sofrimento em específico; ele o protege de experiências radicais, leva-o para longe da imersão no sofrimento e do pesadelo da existência. Esse é um caminho falso. Ele leva à sonolência. Ele leva a lugar nenhum.
O segundo caminho, o “Caminho da Mão Esquerda”, vê tudo ao contrário. Não há alegria leitosa, mas sofrimento negro; nenhuma calmaria silenciosa, mas o drama purulento, ardente da existência dividida. Esse é o “caminho do vinho”. Ele é destrutivo, aterrorizante. Ira e fúria nele reinam. Nesse caminho, toda a realidade é percebida como inferno, como exílio ontológico, como tortura, como uma submersão no coração de algum tipo imaginável de catástrofe originada das alturas dos cosmos.
Se no primeiro caminho tudo parece ser bom, então no segundo caminho tudo parece mal. Esse caminho é monstruosamente difícil, mas ele é o único verdadeiro. Nesse caminho é fácil tropeçar e ainda mais fácil desaparecer. Ele nada garante. Não seduz ninguém. Mas apenas esse caminho é correto. Aquele que o escolhe ganhará fama e imortalidade. Quem sobreviver a ele prevalecerá e receberá uma recompensa maior que a existência.
Aquele que desce o Caminho da Mão Esquerda sabe que terá fim. A masmorra da matéria colapsará e será transformada em uma cidade celestial. Uma corrente de iniciados apaixonadamente prepara o momento desejado, o momento do Fim, o triunfo da libertação total.
Esses dois caminhos não são duas tradições religiosas diferentes. Ambos são possíveis em todas as religiões, todas as confissões, em todas as igrejas. Não há diferenças externas de qualquer tipo entre eles. Eles tratam das partes mais íntimas do homem, sua essência secreta. Eles não podem ser escolhidos. Eles mesmos escolhem um homem para ser sua vítima, seu servo, seu instrumento, sua arma.
O Caminho da Mão Esquerda é chamado de “gnose”, “conhecimento”. É tão amargo quanto o conhecimento e gera sofrimento e tragédia fria. Há muito tempo, na antiguidade, quando a humanidade ainda dava importância decisiva às coisas espirituais, os gnósticos criaram suas próprias teorias no nível de uma filosofia, de uma doutrina, dos mistérios cosmológicos e num nível cúltico. Gradualmente as pessoas se degeneraram, pararam de prestar atenção à esfera de pensamento, e mergulharam na fisiologia em busca de conforto individual na vida cotidiana.
Mas os gnósticos não desapareceram. Eles moveram a disputa para um nível compreensível aos cidadãos modernos.
Alguns deles proclamaram slogans de “justiça social”, desenvolveram teorias de luta de classes e comunismo. O Mistério de Sofia se tornou “consciência de classe”, e a “luta contra o maligno Demiurgo, o criador do mundo amaldiçoado” tomou a forma de batalhas sociais. As linhas do conhecimento antigo se esticaram até Marx, Nechaev, Lenin, Stalin, Mao e Che Guevara. O vinho da revolução socialista, a alegria da rebelião contra as forças do destino, e a paixão sagrada e furiosa pela total destruição de tudo o que era negro com o objetivo de obter uma Luz nova e sobrenatural.
Outros se opuseram à ordinariedade do cotidiano com a energia secreta da raça, o barulho do sangue. Contra a miscigenação e a deformidade eles criaram leis de pureza e uma nova sacralidade, um retorno à Era de Ouro, o Grande Retorno. Nietzsche, Heidegger, Evola, Hitler e Mussolini cobriram a vontade gnóstica em ensinamentos nacionais e raciais.
É bem verdade que os comunistas não se importavam muito com os trabalhadores, nem Hitler com os alemães, mas não por cinismo. Ambos eram obcecados com uma aspiração mais profunda, mais antiga, mais absoluta, o espírito gnóstico comum, a secreta e terrível luz do Caminho da Mão Esquerda. Que trabalhadores, que “arianos”… O ponto é totalmente outro.
Outras personalidades criativas convocadas para o Caminho da Mão Esquerda, o caminho da gnose, também se debateram entre “vermelhos” e “pretos” e “brancos” e “marrons” em suas buscas espirituais. Emaranhando-se em doutrinas políticas, indo aos extremos, e ainda incapazes de expressar claramente os contornos metafísicos de sua obsessão, artistas de Shakespeare a Artaud e de Michelangelo a Eemans, dos trovadores a Breton, beberam do vinho secreto do sofrimento, absorvendo avidamente na sociedade, nas paixões, nas seitas e nas irmandades ocultas os fragmentos díspares de um ensinamento terrível que deixa o sorriso impossível. Os templários, Dante, Lautréamont. Eles nunca sorriram em suas vidas. Isso é um sinal de uma escolha especial, um traço de uma experiência monstruosa de algo que foi comum para todos os caminhantes da Mão Esquerda.
O gnóstico olha para nosso mundo com seu olhar severo – o mesmo olhar de seus predecessores, os elos na antiga corrente dos eleitos do Horror. Uma imagem repulsiva reflete em seus olhos. Um Ocidente enlouquecido na psicose consumista. Um Oriente cujo embotamento e submissão patética dá desgosto. Um mundo afundado, um planeta caído no fundo.
“Em bosques submersos, pressa é inútil e o movimento cessa…” (Golovin)
Mas o gnóstico não abandona sua causa. Nem hoje, nem amanhã, nunca. Além disso, ele tem toda razão para celebrar por dentro. Nós não avisamos os otimistas ingênuos do “Caminho da Mão Direita” aonde sua confiança ontológica excessiva levará? Nós não predizemos a degeneração de seu espírito criativo até a paródia grotesca que são os conservadores atuais, que se reconciliaram com tudo que horrorizava seus mais simpáticos (mas não menos hipócritas) predecessores apenas alguns milênios atrás? Eles não nos escutaram. Agora deixe-os culpar a eles mesmos e ler livretos New Age ou manuais de marketing.
Nós não perdoamos ninguém. Nós não nos esquecemos de nada.
Nós não fomos enganados pelas mudanças nas decorações sociais e atores (aspirantes a) políticos.
Nós temos uma memória bem longa. Nós temos mãos bem longas.
Nós temos uma tradição bastante severa.
Os labirintos do ser, as espirais de pensamentos, os turbilhões de raiva…
Tradução: Centro de Estudos Minayba
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