sábado, 21 de janeiro de 2023

Crítica ao Fascismo Eterno de Umberto Eco

 


A argumentação inicial de Eco é que o fascismo é um movimento eclético e pouco consistente, com contradições evidentes ao longo de seu desenvolvimento; que o impossibilitam de criar uma ideologia concreta e por isso ele é, na verdade, várias características, ações e reações humanas que se expressam de maneiras heterogêneas nas diferentes sociedades, daí surge o conceito "fascismo eterno".  Porém Eco não conhece o processo de construção das ideologias porque escreve sobre política - que não é sua área de estudo - sobre preconceitos de seu próprio pensamento, se não saberia que assim como toda ideologia em seus primordios nada não passa de um idealismo, que ao colocado na prática se "atualizará" uma hora outra de acordo com o contexto momentâneo para atingir determinados fins. 

E assim como o marxismo e liberalismo, o fascismo igualmente tem influências distintas e isso é perfeitamente normal. O liberalismo pega sua base dos nominalistas, seu contratualismo da escola de Salamanca, seu racionalismo de Voltaire, sua teoria economia de Adam Smith, seu indivíduo de Descartes e vários outros autores que podem ser considerados contraditórios entre si em análise minuciosa. O marxismo pega suas ideias de dialética de Hegel, sua luta de classes de Saint Simón, sua política econômica tem forte influência igualmente de Smith e David Ricardo, seu materialismo de Ludwig Andreas e suas ideias de igualdade são revisões do pensamento iluminista com notório exacerbamento de tal.

Segundamente, uma característica retirada de um sistema ideológico-doutrinário deixa de ser a própria ideologia. 

A luta de classes retirada do conjunto sistemático de ideias do marxismo deixa de ser marxismo e pode facilmente ser cooptada por outra ideologia política. O livre-comercio retirado do conjunto de ideias do liberalismo deixa igualmente de ser liberalismo. Assim como o conjunto de características citadas por Eco, retiradas do contexto do fascismo deixará inevitávelmente de ser fascismo. 

Exemplo: a URSS, A China moderna, A Kampuchea e vários experiências socialistas e líderes de países ocidentais notoriamente liberais podem ser considerados possuídores de tais características citadas por Eco, conscientemente.

Sendo assim, eles são fascistas? Não, simples. Estás características são tão abrangentes que podem abarcar desde de uma experiência comunista ao idoso que não gosta de tecnologia. 

 Nós também podemos discutir qual a viabilidade dessas características compartilhadas por Eco, por exemplo:

O fascismo nunca foi "tradicionalista" em sua origem, ele usava mitos para mobilizar às massas e criar uma memória para legitimação do regime. E sua afeição aos mitos se dá pela sua exaltação a idéias renascentistas e seu nacionalismo, que não custa relembrar, que é uma idéia da revolução francesa. O fascismo buscava recursos justamente para potencializar suas forças produtivas para tomar os rumos da modernidade. Nunca negando o pensamento basilar das ideias modernas como a própria idéia de progresso, da ciência moderna, do indivíduo, pelo contrário, queria impor sua própria interpretação de tais ideias. 

Fica evidente que Eco tenta extender essas determinadas características de um fascismo a todas às experiências fascistas, o que é totalmente inviável pela diversidade de fascismos.

Podemos inclusive discutir se tais características citadas são verdadeiramente inertes do "fascismo".

Pode-se argumentar que boa parte do fascismo no terceiro mundo não possuía boa parte das características citadas por Eco, como o integralismo brasileiro e o sinarquismo mexicano.

E o mais importante, não há fascismo em potência em nada atualmente. O Fascismo Eterno é um mito, o fascismo está morto, pelo simples fato que para uma ideologia existir concretamente é necessário um projeto de expansão ideológico, que não há no fascismo desde de sua queda em 1945. 

Essas características fora de contexto não são fascismo, como já supracitado. 

Sendo assim, o que é fascismo?

Para se dar uma definição de fascismo verdadeira e objetiva deve se analisar o que verdadeiramente estava sendo "exportado" para o mundo quando ele já estava verdadeiramente e minimamente consolidado como ideologia - no ventennio - ignorando revezes históricos do fascismo italiano que são um desenvolvimento do fascismo atrelado exclusivamente a um momento histórico específico e não um fim da ideologia em si, como a RSI. 

Para isso é necessário desvincular o fascismo da Itália e vê-lo como ideologia adaptável a cada realidade nacional e com fins heterogêneos de acordo com às nações que o adotaram.

Sendo assim, pode-se definir o fascismo como: um movimento anti-comunista, anti-liberal, corporativista e nacionalista, com um forte viés expansionista.

Seu anti-comunismo militante é diferente do comunismo anti-liberal porque não se dá pela opressão do indivíduo pela classe ou estado, mas pela negação da nação.

Seu anti-liberalismo é diferente dos comunistas porque não é criticado pela opressão de uma classe sobre a outra, mas pela incapacidade do liberalismo de organizar a nação.

Seu corporativismo não é o medieval que dava certa autonomia às corporações para se auto-organizarem, mas um que subjulga os interesses das classes em prol dos interesses do estado.

Seu nacionalismo é o "assimilador" , reciclado das experiências do século XIX, que busca criar uma identidade nacional monolítica para os povos que habitam tal país em prol de uma unidade.

Seu expansionismo não é apenas por meios militares e não busca simplesmente fins econômicos, mas acima de tudo expressar a vontade de tal povo de se transmitir como grandioso internacionalmente.

Para nós do Centro de Estudos Minayba essa é a definição nua e crua de fascismo. 

O mito da luta antifascista que teve seu ápice na grande guerras das ideologias em 1939-1945, permitiu a existência de um vácuo mobilizacional com a derrota total do fascismo, setores das sociedades ocidentais que se legitimavam por essa luta cooptaram a teoria de Eco para continuarem existindo como força ativa contra os milhões de fascistas inexistentes.

Tal argumentação de Eco é usada atualmente como bode expiatório contra qualquer projeto minimamente conservador-popular e para blindar movimentos duvidosos de críticas.

"Para poder se proteger, a burguesia inventará um antifascismo contra um fascismo que não existe mais."

~ Pier Paolo Pasolini




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