sábado, 26 de julho de 2025

Caso Pirara - O perigo do ambientalismo e indigenismo contra a soberania nacional

 

A 'carta indígena' já foi astutamente empregada pelo Establishment colonial britânico no século passado para a conquista da 'Ilha da Guiana' (1), operação que resultou na perda de território brasileiro para a então Guiana Inglesa. A operaçào foi planejada por lorde Palmerston, que, por 35 anos (1830-65), foi o mentor de incontáveis guerras e revoluções na Eurásia, África e América com o propósito de consolidar a hegemonia do Império Britânico segundo o princípio de 'dividir para conquistar'. Desta feita, Palmerston deslocou para a Guiana o explorador alemão Robert Schomburgk, que, sob os auspicios da Royal Geographic Society, fez o trabalho de campo para que territórios habitados por 'tribos independentes' fossem, primeiro, 'neutralizados', para depois serem 'assimilados', precedente histórico minuciosamente documentado pelo barão do Rio Branco e à luz do qual a questão das reservas indígenas em Roraima tem que ser necessariamente revista.


Desde 1616, os luso-brasileiros se empenharam em tomar posse das terras marginais do rio Amazonas e de seus grandes afluentes em nome de Portugal e Espanha, então unificados. No final do século 17, já haviam transposto o divisor de águas dos rios Branco-Essequibo, permitindo que, em 1690, já se registrassem algumas trocas entres holandeses do Essequibo e índios do Rupunani. Toda a bacia do rio Branco, como o Pirara e o lago Amacu, assim como grande parte da bacia do Rupunani e de seu afluente Cipó, como então os portugueses chamavam o Alto Essequibo, estava na posse do Brasil, confirmada pela delimitação feita pela Holanda antes de 1748 e aceita por Portugal em 1783. De fato, a linha extrema das pretensões holandesas seria o limite meridional das colônias do Essequibo, Demerara e Berbice, isto é, a Serra de Paracaima e a linha traçada da confluência Anaí-Rupunani para sudoeste, até a Serra do Tumucumaque. As possessões portuguesas abrangiam, assim, além dos territórios da bacia do rio Branco, os de ambas as margens do Rupunani a desde sua nascente até a confluência do Anaí. O Tacutu, com o Cotingo e o Maú, seu afluente, assim como o Pirara, tributário do Maú, encontravam-se em território brasileiro.


Foi somente em 1781 que a Inglaterra surgiu em terras da Guiana, tomando da Holanda, como presas de guerra, as colônias de Essequibo, Demerara e Berbice. Em 1810, os ingleses subiram o Essequibo pela primeira vez , sendo detJdos por um destacamento militar português no Pirara, retornando para a margem esquerda do Rupunani. Contudo, em 1 827, sir B. D'Urban, governador da Guiana Inglesa, começa a contestar o limite com o Brasil e, em 1837, lorde Palmerston promove a missão Schomburgk, cuja incumbência era examinar as cadeias de montanhas que formam o divisor de águas entre as bacias do Amazonas e do Essequibo, com 'objetivos de simples descobertas geográficas'. Em realidade, Schomburgk já havia realizado, desde 1835, viagens de exploração no interior da Guiana por conta da Royal Geographic Society, tendo afirmado, em seu primeiro relatório, que 'cerca de 20 milhas acima de sua confluência (do Rupunani - n.a.) com o Essequibo ... no que é usualmente considerado a extremidade sudoeste da colônia britânica, eles formaram habitação temporária, ou quartel-general'. Contudo, em seu terceiro relatório, Schomburgk esqueceu tudo o que havia escrito anteriormente e afirmou que o forte de São Joaquim (na confluência do rio Branco com o Urariquera) tinha sido sempre considerado como o limite oriental da Guiana Brasileira. Ele já havia começado a incitar os índios macuxis a entrar em correspondência com o reverendo Thomas Youd, da Missão de Bartika Point, que se estabeleceu na região do Pirara em junho de 1838.


Em fevereiro de 1840, o capitão Leal, comandante do Forte São Joaquim, juntamente com o missionário brasileiro frei José dos Santos Inocentes, empenharam-se em evacuar a missão do reverendo Youd, que, efetivamente, retirou-se para Waraputa Rapids, no Essequibo, 'longe dos territórios em litígio', conforme


instruções recebidas da Church Missionary Society of England. Esta ação pareceu ao Governo britânico um 'ato de usurpação' e, em nota de 20 de fevereiro de 1841, o encarregado de negócios de S.M. Britânica no Rio de Janeiro comunicava ao ministro de Negócios Estrangeiros, Aureliano Coutinho, que o Governo britânico encarregara Schomburgk de explorar e delimitar as fronteiras entre a Guiana Britânica e o Brasil e enviara instruções ao Governo da Colônia 'para se opor a toda usurpação sobre o Pirara ou sobre o território ocupado até agora por tribos independente s'. Um mapa da Guiana Britânica, acompanhado de memória explicativa, seria feito de acordo com a linha de fronteiras descrita por Schomburgk e cópias do mesmo enviadas aos governos do Brasil, Venezuela e Holanda, como declaração da reivindicação brit:inica, enquanto, ao mesmo tempo, comissários britânicos seriam mandados a erigir marcos nas linhas de fronteiras, tal como reclamado pela Grã-Bretanha. Frei José dos Santos Inocente foi logo intimado por um oficial britâinico a abandonar imediatamente a região do Pirara e o território limítrofe da Guiana Britânica, considerado ocupado por 'tribos independentes' que reclamavam a proteção da Grã-Bretanha!


O Governo do Rio de Janeiro concordou em retirar do Pirara os seus delegados e todo o destacamento militar e reconhecer, provisoriamente, a neutralidade desta localidade, sob a condição de que as tribos indígenas permanecessem 'independentes' e na posse exclusiva do terreno, até a decisão definitiva dos limites contestados. Ou seja, o Governo brasileiro admitiu a existência de 'tribos independentes', como pretendido pelos britânicos. Em fevereiro de 1842, uma nova expedição de Schomburgk, apoiada por um destacamento militar, chegou ao Pirara e colocou marcos fronteiriços. O território 'contestado' pela Inglaterra media 54.687 km2, sendo posteriormente (1891) reduzido para 25.187 km2, dos quais o Brasil renunciou a 15.087 km2 ao aceitar, em 1904, o laudo do rei Vittorio Emanuele I , da Itália, escolhido como árbitro da disputa. Os ingleses tinham agora acesso à Amazônia pelo Pirara e o Brasil perdera o acesso ao Essequibo. Pelos serviços prestados à Coroa britânica, Schomburgk recebeu o título de sir.


sábado, 19 de julho de 2025

A Liderança Israelita Atual Está Abrindo as Portas do Inferno - Alexander Dugin

 


Para as três religiões monoteístas — judaísmo, islamismo e cristianismo — isso não é meramente um território ou uma zona definida pelas fronteiras de uma entidade política. Trata-se de um espelho da história mundial. Nas sociedades tradicionais dessas religiões, acreditava-se que por Jerusalém e pela Terra Santa passava um eixo vertical que ligava os reinos Celestial, terrestre e subterrâneo. A entrada para o Paraíso — e a entrada para o Inferno.


A ideia de dar a Palestina aos judeus, que começou a ganhar força há cerca de cem anos — e especialmente após as atrocidades cometidas por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial — parecia uma solução razoável. Muitas nações tinham seus próprios Estados, enquanto os judeus não tinham. Não se tratava apenas de terra, mas de criar um Estado nacional judeu independente, o que muitos, incluindo Stalin, acabaram por aceitar. Foi assim que o Estado de Israel foi fundado. No entanto, a parte mais crucial do plano da ONU para a partilha da Palestina foi negligenciada: o cumprimento de uma profecia de importância absoluta para a religião judaica — a profecia de que, após dois mil anos de errância e dispersão, os judeus retornariam à Terra Prometida.


E foi exatamente isso que aconteceu. A Terra Santa foi entregue a uma só religião: o judaísmo. A conduta do Estado de Israel nesse território evoluiu ao longo do tempo. Inicialmente, a opinião global era moldada pela simpatia, já que o povo judeu havia recentemente sofrido horrores indescritíveis. No entanto, as ações subsequentes dos governos israelenses vêm atraindo críticas e preocupações crescentes da comunidade internacional. Um exemplo recente: neste momento, está estourando um enorme escândalo nos Estados Unidos em torno do caso de pedofilia de Epstein, os bombardeios ao Irã, a escalada de tensões conosco [Rússia], o assassinato de Kennedy — e em todos esses episódios, o fator central parece ser o Estado de Israel. De repente, parece que a política externa americana é desproporcionalmente moldada pelos imperativos estratégicos de Israel — que deixou de ser uma entidade benigna e passou a ser um poder endurecido, disposto a agir com interesse próprio implacável.


O Estado de Israel está realizando uma limpeza étnica em Gaza, atacando o Estado soberano do Irã para impedir que este obtenha armas nucleares — enquanto ele próprio as possui. Coloca no poder na Síria o carrasco e terrorista al-Sharaa, e depois, conhecendo sua natureza assassina, começa a bombardear a antiga Damasco. Deve-se perguntar: a quem a humanidade confiou este território — este espelho do mundo? Parece que a atual liderança israelense está abrindo os portões, não do Céu, mas do Inferno. Em resumo, o que está acontecendo hoje no Oriente Médio é um quadro extremamente sombrio.


A pergunta mais importante: por que nós, representantes da fé cristã monoteísta, entregamos esta terra — sagrada para todos nós, cristãos e muçulmanos — à posse plena dos judeus? Havia resoluções da ONU de 1947 afirmando que Jerusalém deveria permanecer uma cidade internacional sob tutela internacional. No entanto, os sionistas não deram atenção a isso e agiram de maneira completamente inesperada.


A transformação foi marcante. Uma nação outrora vista universalmente como vítima de atrocidades históricas agora atua no cenário global com força extraordinária e assertividade estratégica. Aos olhos de muitos críticos, o moderno Estado de Israel tem seguido políticas marcadas por operações encobertas, assassinatos extraterritoriais e uma disposição para remodelar realidades geopolíticas por meio da inteligência, influência e ataques preventivos. Locais sagrados são bombardeados, governos são derrubados e os equilíbrios regionais são subvertidos — com pouco respeito às normas internacionais. Atua, segundo muitos argumentam, com impunidade.


Isso, é claro, nos força a refletir profundamente sobre os tempos em que vivemos. A leitura religiosa dos eventos que se desenrolam nos lugares sagrados das três religiões monoteístas não pode ser reduzida a petróleo, gás, fundos de investimento, preços do petróleo, valor do Bitcoin ou manobras políticas. Estamos lidando com algo muito mais importante e fundamental.

domingo, 22 de junho de 2025

Irã, Israel, Rússia, USA - Alexander Dugin

 

Alguém, talvez, ache que a Terceira Guerra Mundial pode nos passar ao largo. Isso é o “síndrome dos Patricks”. Tudo o que acontece ao redor, não nos diz respeito.

Não se iludam. Já estamos no meio da Terceira Guerra Mundial. Os EUA realizaram um bombardeio contra nosso aliado, o Irã. E nada os deteve. Agora, nada os impede — nem a eles nem a outros — de realizar o mesmo ataque contra nós. Em algum momento, eles decidirão que não só o Irã, mas também a Rússia não pode ter armas nucleares. Ou decidirão qualquer outra coisa.


Estamos em guerra. Eles podem atacar se avançarmos. Mas também podem atacar se recuarmos. Podem atacar a qualquer momento, e onde bem entenderem. A Ucrânia, claro, não é Israel para o Ocidente, mas algo parecido. Israel também, até pouco tempo, não existia. Mas surgiu e se tornou um proxy do Ocidente coletivo (embora os próprios israelenses acreditem no contrário — que o Ocidente é um proxy de Israel).


A Ucrânia é o mesmo. E não é de se surpreender que Zelensky exija (não peça) apoio total do Ocidente e armas nucleares. O modelo de atuação é óbvio. O Ocidente é o “proxy da Ucrânia”.

Aliás, o regime de Kiev bombardeava o Donbass da mesma forma que Israel bombardeia Gaza. Só com menos recursos, e com a Rússia se comportando de forma mais resoluta na defesa dos seus, ao contrário dos países islâmicos.


Nossos apelos à ONU e nosso pacifismo agora são como emplastros em um cadáver. Se o Irã cair, nós seremos os próximos. Trump está completamente nas mãos dos neocons, como esteve em seu primeiro mandato. O projeto MAGA (Make America Great Again) está encerrado. Nada de grande América — apenas globalismo comum.


Musk explicou com antecedência tudo o que está acontecendo, dizendo que Trump se envolveu em atos indecentes na ilha de Epstein, e que essas gravações estão nas mãos do Mossad. E o próprio Musk saiu de cena a tempo.


Trump perdeu sua autonomia. Ele pensa que, bem, lançou um ataque como no caso do Soleimani, e que dá para voltar atrás. Mas não dá. Ele simplesmente iniciou a Terceira Guerra Mundial, e não tem capacidade de encerrá-la.


Agora, muito depende do Irã. Se o Irã resistir e continuar a lutar, tem chance de vencer. O Estreito de Ormuz está fechado. Os houthis bloquearam a navegação no Mar Vermelho. À medida que outros jogadores entrarem na guerra, a situação mudará dinamicamente. A China tentará se manter à parte — até que também seja atingida.


Se o Irã se render, perderá a si mesmo e colocará todos os outros em risco. Isso vale para todos.

A Rússia foi colocada diante de uma escolha mortal.


A questão não é mais se deve ou não lutar. A Rússia já está lutando. Em todos os lugares, menos entre os Patricks, isso já está claro. A questão é que lutar como antes já não é suficiente. Esse recurso se esgotou. Portanto, é necessário lutar de outro modo, de alguma outra forma

sábado, 7 de junho de 2025

A Evolução do Racismo Dentro do Fascismo

 

Diferentemente do que se pensa, o fascismo em suas origens não era racista.


Inicialmente, dentro do regime fascista, judeus e outras etnias presentes na Itália e nos limites do império eram respeitados pelo Estado italiano (com as limitações sociais da época), sendo que judeus tiveram importante influência dentro do fascismo e contribuíram para o seu desenvolvimento.


Entre essas contribuições, como exemplo, destacam-se os judeus que participaram da Marcha sobre Roma e da Primeira Guerra Civil Italiana (1919-1922), como Cesare Goldman, Bruno Mondolfo, Duilio Sinigaglia e Gino Bolaffi, que foram considerados "mártires fascistas-israelitas".


Outros exemplos incluem o banqueiro judeu Ettore Ovazza, o sindicalista revolucionário Angelo Oliviero Olivetti, o notório artista futurista Xanti Schawinsky (SI SI SI SI SI), o aviador fascista Aldo Finzi e o ministro do Exterior italiano Fulvio Suvich.


Nessa fase inicial do fascismo, Mussolini dava entrevistas contra a ideia de raça, debochava das ideias racialistas de seu futuro aliado e tentava construir um mito de romanidade multiétnica na Itália.


O colonialismo italiano, não muito diferente dos outros colonialismos europeus, era igualmente cruel e racista por essência, mas há algumas observações que devem ser feitas.


Mussolini tentou criar uma mística por trás da guerra para justificar a conquista e a anexação da Etiópia (com o apoio de forças internas descontentes com Haile Selassie, como Abba Jofir).


Ele procurava se projetar como libertador ou mesmo defensor do Islã.


O interessante nessa ocupação da Etiópia e da Líbia é que o governo fascista tentava incluir os povos desses países em seu projeto ideológico, o que explica as várias fotos de camisas-negras etíopes e líbios.


Já na administração econômica fascista, algumas cidades africanas registraram o único pico de industrialização de toda a sua história 


A política cultural fascista na África era igualmente "amistosa", com propaganda e canções voltadas à África que, de certa forma, incentivavam a miscigenação.


Nessa época, o projeto italiano era de império. Mussolini afirmava em 1935:


"Nós, fascistas, reconhecemos a existência de raças, suas diferenças e sua hierarquia. Mas isso não significa que nos apresentamos ao mundo como a encarnação da Raça Branca em uma guerra contra outras raças."

Essa afirmação está longe do projeto racista que ele tentaria aplicar futuramente e reflete apenas um preconceito comum entre os europeus da época.

Com a anexação da Etiópia e o crescente isolamento da Itália, Mussolini se volta para a Alemanha em 1936 e passa a ser influenciado por Hitler, até que, em 1938, lança o Manifesto da Raça, precursor das leis raciais

Dali em diante, Mussolini entra numa espécie de esquizofrenia, tentando copiar tudo o que seu aliado alemão fazia — prova empírica da síndrome de inferioridade que o atingia. O projeto de império, que outrora dominava a mentalidade italiana, foi substituído por um projeto assimilacionista do povo africano, além da promulgação de leis que proibiam a miscigenação em todo o império.

Apesar desses entraves, tais leis raciais eram, em parte, pura abstração. Mesmo após sua promulgação, vários judeus permaneceram na Itália, e o número de afro-italianos continuava a crescer nas colônias.


Já no início da guerra, muitos judeus fugiam das áreas ocupadas pelos alemães em direção à Itália, o que gerava protestos por parte dos alemães. Com o decorrer da guerra, a Itália tornou-se refúgio para judeus de outras regiões, até ser ocupada pela Alemanha em 1943. Dali até o fim da guerra, pouca coisa mudou.

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Por Uma Nova Perspectiva de Dom Pedro II

 


A glória de Dom Pedro II reside na consolidação da unidade nacional por meio de um projeto centralizador que permitiu ao Brasil defender-se das investidas imperialistas do século XIX e afirmar-se como herdeiro da tradição civilizatória romana.


Em uma análise brasileira e QTP, é possível reconhecer que o reinado de Dom Pedro II teve altos e baixos, mas foi fundamental para a construção de uma dialética nacional, articulando elementos diversos da nossa identidade em formação.


Reconhecer isso não significa atribuir-lhe papéis que nunca exerceu, nem cair em delírios de saudosismo monarquista. Muito menos implica ignorar seus erros — como o envolvimento em guerras fratricidas que marcaram parte de seu governo.


No entanto, tampouco devemos demonizá-lo, como fazem alguns. É necessário analisá-lo com objetividade, reconhecendo suas limitações, mas também exaltando seus méritos e legados.


Pedro II era um liberal em muitos aspectos, mas seu legado e simbolismo vão além das fronteiras ideológicas. Por isso, é um erro restringir sua figura à narrativa exclusivamente liberal. 


Devemos resignificar a figura do nosso imperador, retirando-o da narrativa liberal e transformando-o em mais um dos símbolos da nacionalidade em nossa história, sob uma nova perspectiva nacionalista. Assim, poderemos resgatar o sentido profundo de sua profecia e trabalhar para torná-la realidade:


“O Brasil será o herdeiro, o representante, o continuador das glórias da raça latina no globo.”

sábado, 24 de maio de 2025

O Gosto Pela Vulgaridade - Julius Evola

 


Até ontem, víamos exactamente o contrário: muitas pessoas, homens e mulheres, das classes mais baixas procuravam, mais ou menos artificialmente e desajeitadamente, imitar os modos, o linguajar, o comportamento das classes superiores. Hoje faz-se o oposto e julga-se não ter preconceitos, quando na realidade se é apenas vulgar e imbecil. Num domínio diferente, uma outra manifestação do gosto pela vulgaridade, é a moda dos cantores “berradores”, infelizmente muito difundida em Itália. A orientação é a mesma. Cai-se com prazer ao nível da rua, da praça do mercado: primitivismo da voz vulgar, no melhor dos casos instintividade quase animal em termos de expressão e de emoção. O êxtase provocado, desde há muito, pelo canto rouco e desarmonioso do negro, complacente na sua própria abjecção, entre os homens e mulheres de raça branca está na mesma linha. Neste momento, um caso particular é oferecido pelo grupo The Beatles, que suscitou um entusiasmo delirante entre a juventude. Além do cabelo, do tipo indicado acima, o próprio nome escolhido por este grupo é revelador: estes berradores definem-se como “baratas” (beatles); escolheram assim como símbolo um dos insectos mais repugnantes: novo exemplo típico do gosto pela abjecção. Podemos também assinalar de passagem, a título de ilustração, o facto de um membro da aristocracia romana, que abriu uma boîte (é claro que hoje em dia deve dizer-se night club), ter querido chamá-la “A Cloaca”, sendo que só a oposição da polícia o impediu de o fazer. Mas voltando aos Beatles, não foram eles armados cavaleiros do Império Britânico pela Rainha Isabel de Inglaterra? São estes os sinais dos tempos. O pântano chega mesmo até aos palácios, que na verdade já não passam de vestígios ocos e apagados.

sábado, 17 de maio de 2025

Lusitanos - José Luís Ontiveros

 

Quando Portugal e Espanha dominavam no Ocidente,

as culturas pré-colombianas afirmavam-se como alternativa

do mundo tradicional, em particular, a minha ascendência

mexicana, que se fundamenta nas crenças solares e no

pessimismo heróico do povo Azteca, o “povo do Sol”. Em

seguida, sucedeu-se uma série de desastres que a linhagem

românica partilhou. Impôs-se o monismo judeo-cristão e

sepultaram-se os deuses, que ainda dormem enquanto a taça

se definha. Portugal e Espanha decaíram, face ao empurrão

das potências mercantilistas e usurocráticas, unidas ao

“pathos” racial fomentado pelo capitalismo, como tão bem

explica Werner Sombart. As nossas línguas perderam a sua

ambição imperial e encontram-se agora ameaçadas pela

globalização etnocida e pelo domínio de um “esperanto”

dos mercadores. Mas, nestes momentos de extrema penúria,

de falta de vontade de luta pela nossa diferença, sutge o

exemplo magnífico de Luís Vaz de Camões, o poeta guerreiro,

o grande forjador do português, com o seu olho perdido

por obediência ao destino e encontrado, luminoso, entre as

páginas Os Lusíadas; logo aparece, com os seus óculos

voláteis, o seu credo aristocrático e os seus “heterónimos”

que rondam pela aba do seu chapéu, o enorme Pessoa. Com

a bênção de Camões e Pessoa, dedico esta muito breve

aproximação ao escritor que soube desafiar os dogmas de

uma civilização moribunda — Fernando Pessoa —, com um

gesto de agradecimento da “barbárie” aos irmãos de língua

portuguesa, na lembrança imperial de um só destino, na nossa

relação particular com o Brasil, no âmbito de uma mesma

“pátria espiritual”, sob a glória dos pendões de Vasco da

Gama e do símbolo imbatível do rei D. Sebastião.


Fernando Pessoa: o valor do mito

Dizia Ezra Pound que “poucos homens se podem

permitir, pela simples razão de que, ao fazê-lo, poderiam

por em perigo os seus proventos (directamente), ou o seu

prestígio, ou posição, num ou noutro dos mundos

profissionais, o comprometer-se pelos seus pontos de vista”.

Entenda-se este compromisso como uma exigência da

própria pessoa, independentemente de qualquer

compromisso com os outros. Esta política de um dever

interior fica manifesta nos juízos artísticos de Fernando

Pessoa sobre a política.

O poeta português, crente no mito lusitano do regresso

de D. Sebastião (o rei que representa o regresso à centralidade

na vida espiritual de Portugal e que cumpre a função poética

e profética do mito), revelou uma parte de si numa série de

obras políticas, que mais deveriam ser consideradas como

metapolíticas, e constituem uma forma de poetizar ou

transcendentalizar a política. Convergem em Pessoa diversas

influências. Porventura o seu aspecto menos otiginal é o que

o faz tributário das crenças dominantes na civilização

moderna, como o racionalismo, o positivismo e o culto da

organização. Nesse aspecto, Pessoa assemelhar-se-ia a um

discurso spenceriano, muito mais imaginativo, mas não iria

mais além. Pessoa é um artista que olha a política no seu aspecto

estético e talvez se expressasse sobre ele com reflexões como:

“Mas o permanente é instaurado pelos poetas” e “Os únicos

que mudaram mais os povos foram os poetas”. Assim, o

poeta português concebe-se como um intérprete do

verdadeiro “ser português”, protagonista teórico do

misterioso Núcleo de Acção Nacional, que escreve “não (a)

todos os portugueses que nos leiam, mas (a) todos os que

nos saibam ler”. Trata-se de mitificar a razão para a subverter.

Pessoa considera, então, que o mito é muito mais importante

do que a razão, para uma acção política que pretende ser

artística. E essa é, quiçá, a origem do seu conservadorismo

aristocrático, em que a política é considerada como a

substância mais medíocre e imediata, como reino da fealdade

e da falta de imaginação.

Em 4 igualdade entre os homens, Pessoa assinala, primeiro,

um sentimento e, logo a seguir, um juízo. Descreve o que

certamente experimentou no meio da massa, nas fauces do

poder anónimo da época: “A verdade é que entre um

trabalhador e um macaco há menos diferença do que entre

um trabalhador e um homem realmente culto”. Se tal emoção

de uma diferença pudesse ser tomada como uma negação

do mito soreliano, pelo qual o proletariado é uma nova

aristocracia, responde a uma visão imediata e concreta, como

o suor e o sebo da massa no acto de uniformização da

multidão. O ajuizar de Pessoa põe em dúvida um dos dogmas

da modernidade: o igualitarismo. Diz Pessoa: “Aceito um

homem do povo como um itmão em Deus, como irmão em

Cristo, mas não como um irmão na Natureza”.

Pode duvidar-se agora da fé cristã de Pessoa, tão

interessado numa porventura utópica “reconstrução

transcendental do paganismo”. O que merece atenção é que

Pessoa não só se manterá afastado do salazarismo, como irá propor uma revisão das ideias consagradas da revolução e

da democracia. Há em Pessoa um espírito para com a

dissidência que é imensamente meritório e dá corpo, em

palavras, a certas sensações do homem moderno, como a

sua aceitação sentimental da massa e a sua repulsa física pelo

contacto com ela — o paradoxo de tornar livres os cidadãos

da urbe democrática mediante a uniformidade.

Pessoa considera que as revoluções são

fundamentalmente reaccionárias, uma vez que obedecem a

uma crença religiosa nos milagres. “O milagre é o que o

povo quer, é o que o povo compreende. Que o faça Nossa

Senhora de Lurdes, ou de Fátima, ou que o faça Lenine, aí, é

onde reside a diferença” (D). Para Pessoa, como para Maistre,

a Revolução Francesa legitima uma nova religião laica, um

messianismo secular que nega o direito aos privilégios e à

diferença, que proclama o modelo exclusivo do totalitarismo

democrático: em vez de ser diferentes, ser iguais.

Acontece então que a democracia deixa de ser uma

forma pragmática, para viver numa ordem de liberdades e

transforma-se na idealização suprema. Todos temos de nos

submeter ao progresso linear, à vontade abstracta da maioria.

Pessoa avisa: “O sufrágio representa, quando muito, a maioria

politicamente organizada, a qual, face à maiotia real da

sociedade, é uma minoria e, em geral, uma pequena minoria”.

Em Pessoa, a ideia do Império que, devido à acção

política de expansão das potências modernas, passou a ser

imperialista, retoma o seu significado de potência e de

unidade da Origem. O império deve agora expressar-se pelo

espírito: “Todo o império que não se baseie no império

espiritual é uma morte em pé, um cadáver que manda”. Que

entende Pessoa por acção espiritual? É uma acção de iniciação

que abre outros mundos, que revela uma realidade oculta e

que há-de conduzir à realização do “impérialismo

andrógino”, no qual irá imperar o masculino e o feminino. Não haverá, no discurso de Pessoa, outra forma de

providencialismo? Não já a habitual, a “superstição verbal”

da democracia, mas uma mistificação do “ser português” e

uma utopia lusitana, produto da razão, mais que do mito?

Pessoa tentou tornar cartesiano o super-homem e, em

geral, deu importância a uma tendência difusa para o

despotismo ilustrado que descreveu como a “oligarquia dos

melhores”. Mas o seu significado situa-se num lugar diverso

das ideias políticas, uma vez que se esforçou por transcender

o político pelo artístico. Bastou-lhe esse impulso para

confessar os seus demónios internos e animá-los num sonho

individual. Os seus fantasmas aparecem, às vezes, na

demolição da modernidade: a ordem exclusiva, a única

salvação. Pessoa revolta-se, com o mito, contra o tempo dos

deuses mortos.



Caso Pirara - O perigo do ambientalismo e indigenismo contra a soberania nacional

  A 'carta indígena' já foi astutamente empregada pelo Establishment colonial britânico no século passado para a conquista da 'I...