LATINOAMÉRICA
O termo surge, antes de mais nada, como tradução direta do inglês LATIN AMERICA, que é o vocábulo utilizado, obviamente, pelos mass media planetários que encontram no inglês sua expressão cotidiana. Etimologicamente falando, o vocábulo LATINO em sua forma adjetiva carece de precisão para determinar nossa América, dado que não existe a tal "raça latina". Com justiça, pode-se afirmar a respeito: "No vocábulo tendenciosamente evocador do Lácio há uma artimanha para pescar em rio revolto. Quer-se incluir uma suposta presença de franceses, italianos, etc., no panorama, quando a epopeia americana foi especificamente espanhola, desde o descobrimento até a emancipação desses povos. Depois, houve aportes importantes de tipo imigratório, e inclusive cultural... Mas as raízes, as bases, estavam lançadas" (Cfr. Braulio Díaz Sáiz: El idioma nuestro de cada día). O uso do termo latino-americano não só não é correto, como também esconde um claro interesse político por parte dos centros históricos de poder mundial. É de destacar o sentido pejorativo que tem o vocábulo "latino" na América do Norte. Seu uso está tolerado simplesmente por sorte de força interna que outorga o uso massivo e reiterado de certos termos que imprimem na consciência popular os grandes mass media.
AMÉRICA LATINA
Provém da tradução do termo francês AMÉRIQUE LATINE, invenção francesa caprichosa e arbitrária que, apelando à "latinidade", tenta fazer valer sua pertença a um continente que lhe é completamente alheio. Sua gênese histórica a encontramos no sonho de Luís Napoleão a propósito da aventura mexicana do imperador Maximiliano, de formar parte de uma "Amérique Latine et Catholique". Ante a perda de seu poder político nesta parte do globo, os franceses continuam tentando compensar no cultural, apelando à "latinidade", sua influência em nossa América. O renomado escritor mexicano Carlos Fuentes confirma o assinalado em um artigo recente ao sustentar, referindo-se à cultura "dos povos de fala espanhola", que constituem, diz, "uma civilização que eu não chamaria latino-americana. Este é um conceito cunhado pelos franceses do século XIX para se incluírem a si mesmos". (Diário La Prensa, Buenos Aires, 18 de fevereiro de 1990). E o romeno Vintila Horia afirmou mais rotundamente: "a guerra intelectual contra a herança espanhola nas Américas culmina com a aceitação internacional do termo latino-américa" (Reconquista do descobrimento).
A respeito, já no século passado e não sem certo humor, Juan Valera escrevia: "o título América Latina soa mal ao promover a contraposição com a América Yanqui, que têm chamado de Anglosaxônica. Para que a contraposição fosse exata, convinha, se chamamos Anglosaxônica a uma América porque se apoderou dela a Inglaterra, um povo bárbaro chamado anglosaxão, chamar visigótica à outra América, porque outro povo bárbaro, chamado visigodo, conquistou a Espanha. Igual razão haveria para chamar aos Estados Unidos e ao Canadá América Normanda, com tal que a restante se chame moura ou berberisca" (Cfr. Cartas americanas). O emprego de América Latina para designar nossa região, além de ser incorreto, mascara uma vontade de poder totalmente alheia à nossa identidade e interesses.
PANAMÉRICA
O termo nasce a propósito da Conferência de Washington de 1889-1890, auspiciada pelos norte-americanos, ideário político que culmina na chamada "Visão Panamericana" (Conferência de Havana de 1928). Provém do grego PAN, que significa tudo, mais o substantivo América... O que, em bom romance, vem a significar "Toda a América... para os norte-americanos". Nesse sentido, um autor livre de toda suspeita de chauvinismo e nacionalismo como o liberal Salvador de Madariaga nos diz que "o termo Panamérica tem por sentido analógico o que outrora tinha o pangermanismo, isto é, de expansão, de influência dos Estados Unidos" (Passado e porvir da Hispanoamérica). Um pensador nacional da estatura de Manuel Ugarte comenta a respeito: "denuncia essa concepção política (o pan-americanismo) uma habilidade do expansionismo do Norte, com uma tendência suicida da ingenuidade do Sul... O pan-americanismo e a doutrina Monroe são duas manifestações de uma mesma política, favorável exclusivamente a um dos países contratantes" (O destino de um continente, Madrid, 1923, pág. 419).
INDOAMÉRICA
O termo quer indicar que "o índio" é o único traço pelo qual se pode caracterizar propriamente nossa América. Indica um retorno às origens ancestrais da mesma. Preconceitualmente, o vocábulo encerra uma negação de tudo o que é hispânico e tenta anular, em definitiva, os últimos quinhentos anos de história americana. Sua primeira formulação ideológica foi realizada pelo boliviano Franz Tamayo, que lá por 1910 chegou a afirmar, entre outras coisas, que: "A verdadeira nobreza, a superioridade de energia e vigor estava, como está, no autóctone da América. E o branco? Se ainda existe nativo puro entre nós, entendemos que rende e renderá sempre tão pouco que será muito próximo a nada". Inclusive arbitrariedades que provocam hilaridade, como quando escreve que: "No yankee nativo, apesar de todas as aparências, ressuscita o pele-vermelha… A audácia, temeridade yankee não são inglesas, Lynch tampouco. A Europa tradicional não oferece nada semelhante: o pele-vermelha sim". (Criação da Pedagogia Nacional). Torna-se proposta política através das formulações de Víctor Haya de la Torre mediante o Apra peruano pela década de 30, e atualmente é reivindicado pelo denominado "marxismo das Índias" e pelos "antropólogos progressistas" chegados a nossas terras desde a sociedade opulenta. Existem, além disso, matizes nascidos a partir da ideia de indianidade, como são as noções de EURÍNDIA, criada por Ricardo de Rojas (Euríndia, Buenos Aires, 1924), ou de AMERÍNDIA, utilizada por Luis Valcárcel (Mirador Índio, Lima, 1937/41).
AMÉRICA MESTIÇA
Esta denominação busca indicar que a identidade de nossa América se encontra na fusão de diferentes raças. José Vasconcelos foi o primeiro e mais fervoroso representante da teoria do mestiçado. Identificou a raça mista como a raça cósmica, a que inauguraria um novo ciclo da história do mundo, produzido pelos melhores da melhor cepa (Cfr. Raça Cósmica). A noção do mestiçado vem sendo utilizada com assiduidade nos ambientes cristãos para o acesso à nossa identidade. Não só cremos que o termo é pouco feliz, pois mestiço é uma palavra que encerra uma primigênia conotação racial e um matiz pejorativo; pois significa, antes de mais nada, híbrido (Cfr. Oxford English Dictionary). Trazemos à colação Luis de Zulueta quando escreve: "a união de raças é o que comumente se chama mestiçado; palavra pouco feliz porque, além de não ser castiça, tem certo matiz pejorativo para designar um fato biológico que, por outra parte, pode ser estimado como de alto valor moral e social" (Cfr. O rapto da América). Como anedota, recordamos que uma publicação italiana "L'Uomo Libero" Nº22, nos traduziu mistura como "mescolanza". O termo correto para indicar esta realidade seria simbiose: do grego "syn": com + "bios": vida. O que indica o produto autônomo —o homem americano— de duas cosmovisões diferentes —o católico ou baixo medieval e o índio ou telúrico—.
AMÉRICA ESPANHOLA, AS ESPANHAS OU ESPANHA ULTRAMARINA
São as denominações utilizadas pelos espanhóis para nomear estas terras da América. Sua utilização estava dirigida a remarcar o caráter possessivo que a Espanha outorgava a seus "reinos" da América. Com o advento das independências nacionais, foi, paulatinamente, deixada de lado para ser substituída por Hispanoamérica. Ainda que hoje haja autores que a prefiram, como o caso de Julián Marías quando escreve: "Minha preferência pessoal vai, contudo, para outro termo que inclui também meu país: As Espanhas. Nenhum nome traduz melhor a unidade e multiplicidade desta América, nenhum expressa mais adequada e profundamente a vivência radical que tem o espanhol aí: a de estar na Espanha, sim, mas em outra, e creio que é a mesma do hispano-americanismo em outro destes países que não é o seu, mas tampouco 'estrangeiro'". (Sobre Hispanoamérica, Emecé, Buenos Aires, 1973).
HISPANOAMÉRICA
É o termo utilizado por todos aqueles que, ao dizer de José Vásquez Márquez, buscam entender nossa América em "chave Hispânica". Isto é, privilegiando o hispânico sobre os componentes que fazem à nossa identidade. O representante mais conspícuo desta posição tem sido o poeta nicaraguense Rubén Darío, poetizando assim: E sempre fui, por alma e por cabeça, espanhol de consciência, obra e desejo; e já nada concebo e nada vejo senão espanhol por minha natureza. O termo hispano-américa pode suscitar, à primeira vista, uma exclusão do Brasil; porém, nada mais errôneo. Os mesmos portugueses assim o têm reconhecido: "Um agente fortíssimo da Espanha" para Camões, o autor de OS LUSÍADAS. Almeida Garret nos diz por sua parte: "somos hispânicos e devemos chamar hispânicos a quantos habitamos a península hispânica". Isto é, o termo hispano-américa não exclui a tradição portuguesa, fonte principalíssima do Brasil e sua língua. O certo é que a noção de hispano-américa tenta resgatar o laço de união e pertença entre a Espanha e a América, e vice-versa.
IBEROAMÉRICA
O termo é proposto com o único propósito de "incluir inequivocamente" o Brasil e sua herança portuguesa como elemento substantivo de nossa América. Mas, como acabamos de ver, o vocábulo ibero é conversível com o de hispano. Embora caiba reconhecer que o termo ibero possui uma conotação mais geográfica que filosófica ou cultural, tal como menciona o de hispano.
ÍNDIAS OU ÍNDIAS OCIDENTAIS
É o primeiro termo para designar a América, posto que foi seu descobridor, Cristóvão Colombo, quem assim denominou nosso continente. Daí se deriva o patronímico genérico de seus habitantes aborígenes: Índios... Os espanhóis e portugueses continuaram, bem entrado o século XVIII, chamando Índias Ocidentais a esta parte do mundo. Temos inclusive o caso de Volney, que dedicou suas Ruínas de Palmira, publicadas em 1791, "Aos povos nascentes das Índias Castellanas". O nome "de Novo Mundo" foi introduzido por Pedro Mártir de Anglería (alter Orbis, Mundo Novo). Como reação à denominação de América devida ao cartógrafo Hylocompylus (de hylé= matéria e compilare: compilar), Frei Bartolomé de las Casas propôs o nome de Columba, também foram propostos os nomes de Colonásia por Reclus, Columbiana por Solórzano e Pereyra, Fer-Isabélica por Fernando Pizarro, mas nenhum deles finalmente prosperou. Neste recenseamento dos modos de chamar nossa América, encontramos, também, as denominações América Meridional, setentrional, do sul ou do sud, austral, sudcentroamericana, as quais são apenas denominações de caráter geográfico, com sentido unívoco. Finalmente, nós cremos que o termo mais adequado para indicar esta busca de nossa denominação é simplesmente o de "americanos", mal que lhes pese aos mal chamados "norte-americanos", que são os que se têm apropriado do termo. E dizemos que devemos autodeterminar-nos e ser chamados "americanos" não só porque assim o fizeram nossos pais fundadores: San Martín, Bolívar e nossos homens da independência, que sabiam o que eram e se preferiram a si mesmos, senão porque só nós temos fecundado a América, pois provimos da fusão de duas cosmovisões: "A telúrica ou índia" e "A católica ou baixo medieval", que não foi outra coisa senão o que a Europa e o Mediterrâneo tiveram de melhor. O caráter de "americanos" não faz acepção de origens, senão de pertença; podem ser e são de fato diferentes as origens, alemães, italianos, árabes, portugueses, espanhóis, russos, etc., mas a pertença à América é o que nos determina. Agora, claro está, pertencer supõe arraigar-se, lançar raízes, fundar uma progênie, instaurar e compartilhar valores. Tudo isto supõe o cultivo da América para a criação de uma cultura, que por ser própria seja diferente e alternativa à cultura universal e homogênea que se nos quer impor. Se algo deve ser lançado em rosto à conquista anglo-saxônica é o haver sido um transplante cruento por eliminação do autóctone, da cultura máquera e protestante da Inglaterra do século XVII. Inversamente, se algo maravilhou à colonização espanhola e às diferentes ondas imigratórias tem sido e é a fusão com o autóctone, além dos casos de eliminação e exploração que certamente houve. Mas isto não ocorreu como "um destino manifesto", como finalidade específica da colonização espanhola da América, senão como fenômenos colaterais e acidentais da colonização de nosso continente. Esta interpretação da consciência americana como produto, por fusão e não por mistura, de dois elementos completos em si mesmos: as cosmovisões "baixo medieval" e "autóctona", deu por resultado um todo natural em si mesmo, a consciência americana, analogamente diferente aos elementos de que está composta. Isto é, produziu um todo autônomo e diferente tanto em relação à consciência imigratória, qualquer que seja a latitude de onde proveio, como em relação à consciência índia ou telúrica.
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