Comumente vemos nos círculos patrióticos uma exaltação à participação do Brasil na Guerra do Paraguai ou, como é conhecida nas terras guaranis, Guerra da Tríplice Aliança. Mas, longe do ufanismo irrefletido, insuflado por historiografias positivistas que fazem uma análise recortada da realidade dos fatos, podemos observar que a Guerra Paraguaia foi um erro estratégico para a liderança do Brasil enquanto polo de poder na América Ibérica.
Para começarmos nossa explicação, passaremos brevemente por uma contextualização do cenário do Rio da Prata anterior aos acontecimentos da guerra, para compreendermos as causas que levaram à mesma.
• Portugal e Espanha
Como bem sabemos ou deveríamos saber, após a união de Portugal com a Espanha em 1580, o Tratado de Tordesilhas tornou-se uma abstração, resultando na expansão dos territórios 'brasileiros' dentro daquilo que era considerado território espanhol. Esse é um ponto chave para entendermos a questão do Prata.
A Capitânia de São Vicente, anterior ao descobrimento de grande quantidade de ouro em seus territórios, era um território quase abandonado pela coroa portuguesa, como bem ressalta Oliveira Viana em seu célebre livro Populações Meridionais do Brasil, o que possibilitou que grupos de homens se organizassem nas chamadas 'Bandeiras' para a busca de recursos dentro da América.
A expansão desenfreada impulsionada pelas bandeiras gerou conflitos na América. Os bandeirantes, vistos pelos jesuítas como mestiços selváticos "sem fé", expandiam-se território americano adentro, consolidando sua relativa autonomia na "República de São Paulo".
Já no Prata, os jesuítas, dentro do império espanhol, haviam se organizado na "República Guaratínica" ou "Misiones". Tal República, igualmente a São Paulo, possuía relativa autonomia em relação à própria metrópole e buscava expandir-se dentro dos territórios americanos. O que gerou uma série de conflitos com os paulistas, culminando na perda de vários territórios no que hoje é considerado o Sul do Brasil, mas também impedindo os bandeirantes de se aprofundarem nas terras do Cone Sul.
As Guerras Guaratínicas, como são conhecidas atualmente, foram o início do estranhamento entre os hispano-americanos e brasileiros no Cone Sul do nosso continente. Tal desconfiança de um sob o outro permaneceria insistentemente.
• Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai recém-independentes
A questão do Uruguai é complexa. Historicamente, o Uruguai foi parte do Vice-Reinado do Prata e colonizado majoritariamente por espanhóis. Chamado de "Banda Oriental" por eles.
Após o caudilho austral José Gervásio de Artigas declarar independência da "Liga dos Povos Livres", o Império Português, à época com seu Rei Dom João exilado no Brasil por conta das guerras napoleônicas, sentindo-se ameaçado pelo projeto de independência artiguista e instigado por planos expansionistas pessoais, invadiu os territórios da Liga dos Povos Livres e os anexou ao império. Esse foi outro fato que reacendeu a desconfiança em relação aos luso-americanos naquela região.
Com a independência brasileira, os portenhos na Argentina acreditavam que haveria uma ruptura da postura brasileira com as políticas portuguesas na América espanhola e logo solicitaram ao Brasil que lhes devolvesse o território ocupado pelos portugueses, o que não lhes foi concedido, resultando na Guerra da Cisplatina e na independência do Uruguai.
A luta contra os brasileiros insuflou nas populações uruguaias um sentimento de contraste aos 'bayanos', como chamavam os brasileiros.
E o impasse na guerra gerou uma rivalidade entre Brasil e Argentina, com ambos tentando influenciar o Prata para impor seus próprios interesses.
A Argentina, ávida por reconquistar seus antigos territórios do Vice-Reinado do Prata, buscava minar os estados existentes na região para posteriormente anexá-los. Mas, com sua instabilidade política interna e guerras civis sangrentas em seu território, era impossível fazer muita coisa para influenciar os rumos da região. O que abriu portas para a reorganização de tais estados e para uma influência sutil do Brasil nesses países recém-independentes.
O Paraguai se encontrava desde sua independência isolado. Os portenhos consideravam o Paraguai uma província rebelde que se uniria às Províncias Unidas do Rio da Prata uma hora ou outra e, para apressar as coisas, trataram de impedir o acesso do Paraguai ao Rio da Prata, numa tentativa de asfixiá-lo. Porém, não contavam com a insistência do caudilho de origem luso-brasileira, Gaspar Francia, em manter a soberania do Paraguai.
Francia estreitou seus laços com o Brasil em uma tentativa de contornar o bloqueio imposto por Buenos Aires, fazendo do Brasil um aliado natural do Paraguai, sendo o Brasil a principal porta do Paraguai para o mundo.
Passado o período pós-independência e as sucessivas instabilidades dos estados nacionais da América Ibérica, as águas do Prata voltaram a ferver. Após o caudilho federal Juan Manuel de Rosas vencer os unitários na Argentina e unificar o país, a Argentina voltou ao jogo de influência no Rio da Prata, ajudando o caudilho uruguaio Manuel Oribe a tomar o poder no Uruguai e iniciando novamente um cerco ao Paraguai.
Carlos López, nessas circunstâncias, como seu antecessor, volta seus olhos para o Brasil em busca de apoio para manter a independência paraguaia e, posteriormente, apoia o exército brasileiro na campanha contra Rosas.
Esses fatos demonstram que o Paraguai era um aliado estratégico para o Brasil contra a Argentina e que seus interesses coincidiam.
Mas a vitória na Guerra do Prata muda completamente o cenário da região.
Inicialmente, a derrota da Argentina parecia um alívio às elites brasileiras, que, em sua torpe interpretação liberal, viam na queda de Rosas uma abertura daquele país à "civilização".
Não podemos deixar de ressaltar aqui como as elites brasileiras viam os hispânicos: tirânicos, anárquicos, selvagens, facínoras e inferiores.
E essa visão do Brasil como superior aos seus vizinhos resultou numa série de medidas que visavam manter seus vizinhos subjugados e não resolver questões de suma importância para a estabilidade da região, como bem ressalta Teixeira Mendes:
«[...] após “expulso Rosas”, “continuaram turvas as nossas relações com os estados vizinhos”, sobretudo devido às “questões de limites”, da “livre navegação dos rios” e das “vexações de que se diziam alvo os nossos compatriotas moradores da Banda Oriental”. As relações do Império chegaram a uma situação “bem tensa”, em 1854-5, com o Paraguai, conseguindo-se, “felizmente”, “um tratado de livre navegação” em 12 de fevereiro de 1858, “negociado por Silva Paranhos”. Entretanto, ficavam “todavia por liquidar-se a questão de limites” e persistiam as “desconfianças e as suscetibilidades das vaidades nacionais de ambos os países”.»
A Expedição de Paranhos (1854-1855), citada por Mendes, foi o ápice da prepotência brasileira em relação ao Paraguai antes da guerra. O Tratado de Montevidéu, imposto ao Uruguai, também não visava impedir qualquer ameaça futura ao império, mas humilhar aquela nação e transformá-la num Estado fantoche. Enquanto a Argentina mergulhava mais uma vez numa guerra civil.
Já o Paraguai, comandado por Carlos López, ponderou pela navegação livre no Rio da Prata, assinando o Tratado de Assunção em 1851 com o Uruguai. Esse tratado é mister para se entender por que o Paraguai interveio no Uruguai em 1864. Em suma, tal tratado propagava que os países signatários do acordo defenderiam-se mutuamente em caso de agressão externa. Fazia sentido para esses dois países pequenos defenderem-se dos seus dois grandes vizinhos que buscavam abocanhar a região.
O Paraguai de Carlos López conseguiu assim romper seu isolamento histórico e, pela primeira vez desde sua independência, buscar o mundo externo como uma das fontes para seu desenvolvimento.
• A Economia Paraguaia
O Paraguai, desde sua fundação, teve uma economia majoritariamente agrária. Não podemos cair em narrativas ufanistas paraguaias nesse quesito.
Mas não podemos desconsiderar que houve um ímpeto de Carlos López para tentar modernizar o país. A busca de técnicos europeus, o envio de emissários para a Europa, o aumento de efetivo e modernização do exército, a tentativa de se criar indústrias em Assunção, a construção de ferrovias estratégicas dentro do Paraguai e as políticas econômicas que poderíamos chamar hoje de "desenvolvimentistas" são fatos que não podemos ignorar.
O Paraguai angariava capital externo e o gerenciava internamente. Longe das narrativas propagadas por historiadores com tendências esquerdistas, o Paraguai não era uma autarquia, mas uma economia emergente comum que importava poucas coisas, mais por dificuldades do que por ausência de desejo, não muito diferente de outros países da América Ibérica. Com o diferencial de que o Paraguai conseguiu fazer o mínimo e crescer rapidamente em vários anos seguidos.
Quando Carlos López morreu em 1862, o Paraguai era um país relativamente estável e com uma economia crescente comparado aos seus vizinhos platinos, que trucidavam-se em conflitos internos ou estavam em estagnação crônica.
Solano López continuou as políticas de seu pai em todos os aspectos da máquina pública paraguaia.
• Solano López e o Paraguai
Longe dos sentimentalismos que o 'Mariscal' desperta em todo o continente, Solano López era um líder idealista que queria projetar o Paraguai ao mundo. Mas provavelmente não por um expansionismo que a narrativa argentino-brasileira acusa-o.
Muitos acusam o Paraguai de querer uma saída para o mar e, por isso, em tal narrativa, ele almejaria a guerra. Mas não levam em consideração que o Paraguai já possuía essa saída: o Porto de Montevidéu. Além de que Solano López teve a oportunidade de anexar várias províncias durante seu governo antes da guerra, como na sua tão falada participação na pacificação das províncias de Corrientes e Entre Ríos na Argentina, onde seria praticamente impossível para os bandos armados argentinos se contrapor a uma possível anexação. E mesmo assim não o fez.
Esses fatos demonstram que a política de Solano López no Prata era muito mais acauteladora do que se pensa, sendo muito mais a continuação da diplomacia de seu pai do que uma novidade da personalidade de seu caudilho.
Mas tudo isso mudou após a ascensão de Mitre, após a batalha de Pavón em 1861, e a intervenção do Brasil no Uruguai em 1864.
• Mitre e a Argentina
Podemos definir Bartolomeu Mitre como um caudilho tecnocrata liberal pró-inglês que estava disposto a utilizar os meios viáveis para unificar a Argentina e seus antigos territórios. E especificamente o Paraguai, país que tentou cercar, bloqueando a navegação no Rio da Prata após sua subida ao poder após a batalha de Pavón.
O Paraguai era visto como um reduto bárbaro e incivilizado no Prata por Mitre, em contraste com a "Moderna Argentina, aberta ao mundo e à Europa".
Sua preferência pelo estrangeiro e suas crenças 'progressistas' ficam muito claras ao analisarmos suas famosas falas proferidas em 23 de novembro de 1861:
"[...] A ação da Europa na República Argentina tem sido sempre protetora e civilizadora, e se alguma vez tivemos desentendimentos com alguns governos europeus, não sempre se pode dizer que os abusos dos poderes irregulares que surgiram de nossas revoluções não tenham sido a causa... Recebendo da Europa os capitais que nossa indústria requer, existindo um câmbio mútuo de produtos, pode-se dizer que a República está identificada com a Europa até o mais que é possível."
Mitre planejava expandir a 'civilidade' portenha aos outros países e foi isso que levou o mesmo a financiar e armar o caudilho colorado Flores contra o presidente Aguirre, no Uruguai.
• Aguirre e o Uruguai
Os governos uruguaios haviam sofrido uma interferência constante por parte dos brasileiros desde 1851. O Tratado de Montevidéu transformava o Uruguai em um fantoche informal brasileiro. E a contínua interferência brasileira em assuntos internos do Uruguai despertava insatisfação geral.
É nesse contexto em que os presidentes Bernardo Berro e Atanasio Aguirre tentam se livrar de tais acordos e reafirmar a soberania uruguaia com um processo de nacionalização da vida pública uruguaia. O que desagradou fazendeiros brasileiros, gerando conflitos entre as milícias governamentais e esses estancieiros.
Esses estancieiros descontentes uniram-se em torno de Venancio Flores e lançaram uma rebelião que culminaria na guerra civil uruguaia.
• Dom Pedro II e o Brasil
Após a guerra contra Rosas, Dom Pedro II via o Brasil como soberano no Prata. O Brasil unificado e estável, em comparação aos seus vizinhos, poderia dar as cartas e manter seus obtusos interesses naquela região.
Mas, apesar de o Brasil estar, em teoria, unificado, ainda havia medo nas cortes de uma fragmentação do império, especificamente na excêntrica região sul do país, onde estancieiros gaúchos permaneceram quase 10 anos independentes ao império.
Tais estancieiros gaúchos possuíam muitos negócios no Norte do Uruguai, onde sentiram-se ofendidos com a campanha patriótica empreendida pelos presidentes Berro e Aguirre.
E uniram-se em torno de Venâncio Flores. Inicialmente, os combates pendiam para Aguirre e o governo Blanco, apesar do financiamento recebido de Flores por Mitre e os estancieiros gaúchos.
É nesse contexto de fracasso inicial da expedição de Flores que se dá a intervenção brasileira no Uruguai em 1864. Houve muita gritaria por parte dos estancieiros gaúchos no Brasil, alardeando supostas atrocidades que o governo Blanco havia cometido contra brasileiros naquele país, o que gerou uma comoção nas cortes brasileiras, que temiam que tais estancieiros, frustrados com perdas econômicas no Uruguai, pudessem se voltar contra o governo brasileiro em uma nova República Riograndense.
E o Império invade o Uruguai em 1864 para salvar o caudilho Flores e defender seus supostos interesses naquela região.
• A posição paraguaia diante da intervenção brasileira no Uruguai
Solano López ofereceu a sua mediação ao governo imperial, para que ambas as partes no conflito conseguissem chegar a um acordo, visando a permanência do acesso do Paraguai ao estratégico Porto de Montevidéu. Rejeitada.
Essa rejeição da mediação paraguaia reacendeu em Solano López uma desconfiança em relação aos brasileiros. Já cercado ao sul pelo hostil governo de Mitre, que alardeava querer conquistar o Paraguai, Solano López encontrava seu estratégico aliado, o qual possuía um acordo formal de defesa mútua desde 1851, sendo atacado por uma potência que havia ameaçado o Paraguai em 1854 e ignorava suas tentativas de apaziguamento.
É nesse contexto que se inicia a operação paraguaia em território brasileiro.
• A guerra
A Guerra do Paraguai não inicia-se com a invasão do Paraguai ao Mato Grosso, como vermes com fezes no lugar do cérebro afirmam, mas no momento em que o Brasil intervém no Uruguai. Esse é um ponto de extrema importância para termos em mente.
Quando o Paraguai invade o Brasil, havia, naquele momento, uma disparidade entre exércitos formais e um cenário político e social muitíssimo divergente. O Paraguai possuía em torno de 80 mil/100 mil soldados. O Brasil possuía em torno de 20 mil/30 mil soldados. A Argentina possuía em torno de 15 mil/20 mil soldados. O Uruguai possuía em torno de 3 mil/5 mil soldados.
O exército paraguaio era moderno, disciplinado, centralizado e treinado na doutrina militar mais moderna da Europa e do mundo. Os exércitos argentino e uruguaio eram um conjunto de milícias mal treinadas e mal armadas, absolutamente destruídas pelos anos de guerras nesses países, comandados por caudilhos e chefes locais que aliavam-se a um caudilho ou outro. Já o exército brasileiro era ínfimo para o tamanho de seu território e composto por mercenários, jagunços e poucos soldados treinados.
O Paraguai era uma nação socialmente e politicamente estável, com um senso de nacionalidade reforçado pelo isolamento de anos. Enquanto Uruguai e Argentina eram países destruídos por anos de guerras incessantes e com faccionalismos graves em seus países. Já o Brasil possuía um histórico de revoltas e a chaga da escravidão em larga escala.
Esses fatores fizeram López crer que uma vitória seria possível, como parecia ser. Se não fosse um conjunto de nuances que ocasionaram uma reviravolta na guerra.
Inicialmente, em 1864, o Paraguai invade o Mato Grosso mais como forma de barganha do que por um objetivo estratégico real. Já em 1865, o Paraguai planejava invadir o Rio Grande do Sul para tentar sublevar essa província contra o Império e salvar os blancos no Uruguai. Para isso, fez uma solicitação ao hostil governo argentino para passar suas tropas por seu território, recebendo uma recusa.
O governo de Mitre, ao mesmo tempo em que se recusava a permitir que as tropas paraguaias passassem pelo seu território, dava carta branca para as tropas brasileiras utilizarem o mesmo. E essa foi a causa principal da invasão da Argentina por parte do Paraguai.
A Argentina, nos cálculos de López, era um inimigo fraco e fragmentado, já que havia rumores de tentativas dos federalistas de se oporem ao governo de Mitre nas províncias do interior.
Nos primeiros anos da guerra, o Paraguai realmente triunfava e, enquanto triunfava, tentava cessar as hostilidades, propondo, em 12 de setembro de 1866, em Yataity Corá, a paz. Porém, foi negado pelos países da Tríplice Aliança, já que um dos objetivos da guerra para tais países era "derrubar o ditador", e a mesma só poderia ter fim após a queda de López.
O Tratado da Tríplice Aliança marca o triunfo da mentalidade portenha, o liberalismo, encarnado caricaturamente nos dois principais países da aliança, que tentavam impor aos moldes de sua hipocrisia a "civilização" ao Paraguai. A mesma "civilização" que o Brasil, escravagista e governado por partidos oligárquicos que se revezavam infinitamente na política, e a Argentina, comandada por caudilhos degoladores, não conseguiam estabelecer nos seus próprios países.
Solano López, ao longo da guerra, tentou fazer vários tratados de paz com a Tríplice Aliança, sendo sumariamente negado por ela. Não só pelo ímpeto do sr. Dom Pedro II em tentar projetar-se como "imperador guerreiro", mas também por ideologia, por parte de Mitre.
E isso culminou na maior guerra fratricida do continente.
Com o Brasil saindo endividado e com contradições afloradas em seu tecido social, resultando numa estagnação crônica desse país.
Porém, em contraste com o Brasil, a Argentina liberal de Mitre venceu a guerra. Conseguiu eliminar seus inimigos políticos, unificou o país e angariou muitíssimos empréstimos mediados pelos brasileiros, além de ter contribuído infimamente com o esforço de guerra, enquanto os escravos brasileiros recrutados à força faziam todo o trabalho sujo. E, apesar de não conseguir anexar o Paraguai como queria, a Argentina conseguiu se erguer e se industrializar, ameaçando, inclusive, seu antigo aliado com rumores de guerra em 1880. Enquanto o Brasil se retraiu e entrou num período infame de sua história.
• A Guerra do Paraguai numa visão metapolítica
É impossível não associar o Paraguai lopista aos arquétipos civilizacionais apresentados por Carl Schmitt de Behemoth e Leviatã.
"As civilizações telúricas ou terrestres são caracterizadas por uma série de itens ideológicos e sociológicos. Conservadorismo, holismo, antropologia coletiva e culto aos valores do ascetismo, da honra e da lealdade. São civilizações enraizadas na terra e nos valores da Tradição e da continuidade. Em contraste, os valores individualistas, universalistas e comerciais predominam nas civilizações talassocráticas ou marítimas. O oceano carece de fronteiras e o navegador perde facilmente suas raízes. Nos tempos antigos, a oposição entre Roma (a Terra) e Cartago (o Mar) é um bom exemplo dessa dualidade." - José Alsina Calvés
O Paraguai, telúrico, conservador, autocentrado, ascético, valoroso e honrado, poderia muito bem ser visto como o Behemoth sendo asfixiado pelos mercantis, individualistas e liberais leviatãs da Argentina e Brasil. O Paraguai encarnava na guerra a Nova Roma dos trópicos, enquanto as elites que conduziram Argentina e Brasil ao seu extermínio, Cartago. Desejosas por transformarem o Paraguai no chiqueiro mental que elas exaltavam.
Sem dúvida alguma, não há nada para se comemorar nessa guerra. Ela não foi uma afirmação da nacionalidade, como alguns propagam, mas prova da mancebice e imbecilidade de certas elites em conduzir políticas prestantes para seus determinados países. Cultuar a Guerra do Paraguai é uma sinalização de um quociente de inteligência atrofiado.
• Uma visão nacionalista da Guerra do Paraguai
Devemos cultuar nossos heróis, isso é natural, saudável e bom. Mas não podemos afundar nossas cabeças em um buraco dissonante da realidade por um ufanismo imbecil. Devemos estudar os fatos históricos para analisarmos melhor nossa realidade, não como forma de reacender paixões mortas ou justificar masturbações mentais.
Atualmente, o Brasil não possui inimigos no continente. Nem a Argentina, nem o Paraguai, nem o Uruguai. Nossos inimigos são estrangeiros. Que querem manter nosso continente eternamente subjugado. E a divisão dos países ibero-americanos é oportuna para eles.
Devemos deixar o passado no passado, superar o ressentimento e construir as bases da independência do nosso continente juntos. Para que, talvez, no futuro possamos ter o luxo de nos odiarmos novamente.