A velha tradição está equivocada: o Ocidente já não é europeu, e a Europa já não é o Ocidente. Na sua marcha em direção ao Oeste, o sol da nossa civilização escureceu. Partindo da Grécia, instalando-se em Itália, depois na Europa Ocidental, depois em Inglaterra, e finalmente, tendo atravessado os mares, instalando-se na América, o centro do "Ocidente" foi lentamente desfigurado.
De fato, hoje, como bem percebeu Raymond Abellio, é a Califórnia que se estabeleceu como o epicentro e a essência do Ocidente. Terra pacificada na orla do Pacífico, ela é o símbolo desse bem-estar onde morre a nossa civilização; terra do fim da história, terra hollywoodiana do simulacro, é a marca assintótica da loucura, da sociedade comercial, da sociedade do espetáculo, e do cosmopolitismo. (…)
O Ocidente torna-se assim "uma coisa" global. Apresenta-se como um conjunto vago composto por redes de decisões, zonas territoriais dispersas, blocos culturais e humanos distribuídos em todos os países. Se os Estados Unidos ainda o dominam, o Ocidente assume cada vez mais a imagem de uma "qualificação" - e já não de uma pertença - que atravessa cada nação.
O Ocidente, ou a civilização ocidental, indica os lugares onde prevalece o "sistema ocidental". Estes lugares são cada vez menos caracterizáveis em termos políticos, geográficos, e étnicos. Se o epicentro permanece localizado nos Estados Unidos, o futuro previsível leva-nos a antever uma disseminação do Ocidente, a sua transformação num conjunto policêntrico. (…)
Paralelamente, se o centro está em todo o lado e que "todo o lado" é no fundo lado nenhum, o Ocidente é chamado a perder qualquer virtude específica; ser ocidental é não ser nada. E sobretudo para os europeus, que ao se dizerem ocidentais perdem no processo a possibilidade de se designarem de forma válida. Se o indiano, por exemplo, pode permanecer "indiano" e ocidental, o alemão ou o holandês são impelidos a não serem nada mais do que ocidentais, ou seja, no fundo, nada.
Negligenciando fronteiras, estados, religiões, o Ocidente cobre muito mais do que uma realidade geopolítica ou uma solidariedade diplomática com o "mundo livre". Vai muito para além deste quadro. É, na sua essência, o estabelecimento global de uma forma de sociedade, a da "Americanosfera". (…)
(…) O padrão ocidental torna o povo "estrangeiro em relação a si próprio", estrangeiro em relação à sua própria cultura, que se torna objeto de etnologia ou é classificada e neutralizada como "folclore".
A diferença essencial entre os padrões culturais tradicionais e o padrão ocidental é que os primeiros definem-se em relação aos padrões culturais de outros grupos étnicos ou regiões, de acordo com uma lógica diferencialista (padrões relativos), enquanto os segundos se apresentam como sendo “o padrão”, como tendo valor universal e, de facto, considerando todas as outras culturas como atípicas - "retrógradas" - ou moralmente anormais, como "selvagens" que precisam de ser civilizados, ou seja, domesticados. (…)
A este respeito, três tipos de culturas "padronizadas" parecem coexistir: (1) a cultura de massa global, que impõe na música, cinema, mobiliário, vestuário, alimentação, etc, estilos cada vez mais uniformes, e que se apresenta sob a forma de uma cultura distrativa; (2) uma cultura abstrusa e elitista, abstrata e universalista, cuja função é social e discriminatória (com o propósito de substituir as diferenças etnoculturais por uma divisão vertical entre duas esferas culturais à escala de todo o Ocidente); e finalmente (3) uma cultura "museu" que codifica a "antiga", racionaliza a memória coletiva, com o objetivo de transformar o passado cultural único de cada população num patrimônio folclórico padronizado descrito como "herança da humanidade", etc. (…)
O exemplo mais marcante de normalização cultural planetária (ocidental) parece ter sido, de pois da 2ª guerra mundial, a “cultura dos jovens”.
Esta, apresentada como uma ideologia antiburguesa de "libertação" e contestação, tinha na realidade por função criar a primeira classe burguesa ocidentalizada da história, numa vintena de países. Foi a geração nascida logo a seguir à guerra que primeiro a adotou. Hoje em dia, uma grande parte da juventude ocidental - inclusivamente em países não industrializados - partilha a mesma música, costumes e "cultura prática". Pode-se dizer, de acordo com a expressão de Robert Jaulin, que o Ocidente já não é um lugar, uma zona, mas uma forma de vida que nos "atravessa", que se interioriza em cada ego.
Por muito que o Ocidente se apresente como uma realidade cultural e geopolítica, é também uma ideologia, coerente e estruturada, cujo objetivo totalitário está tanto mais presente quanto não surge geralmente à primeira vista a esses apaixonados da liberdade que se consideram como nossos intelectuais.
Guillaume Faye, L’Occident comme Déclin, pags. 11-15, Le Labyrinthe, Paris, 1984