sábado, 26 de julho de 2025

Caso Pirara - O perigo do ambientalismo e indigenismo contra a soberania nacional

 

A 'carta indígena' já foi astutamente empregada pelo Establishment colonial britânico no século passado para a conquista da 'Ilha da Guiana' (1), operação que resultou na perda de território brasileiro para a então Guiana Inglesa. A operaçào foi planejada por lorde Palmerston, que, por 35 anos (1830-65), foi o mentor de incontáveis guerras e revoluções na Eurásia, África e América com o propósito de consolidar a hegemonia do Império Britânico segundo o princípio de 'dividir para conquistar'. Desta feita, Palmerston deslocou para a Guiana o explorador alemão Robert Schomburgk, que, sob os auspicios da Royal Geographic Society, fez o trabalho de campo para que territórios habitados por 'tribos independentes' fossem, primeiro, 'neutralizados', para depois serem 'assimilados', precedente histórico minuciosamente documentado pelo barão do Rio Branco e à luz do qual a questão das reservas indígenas em Roraima tem que ser necessariamente revista.


Desde 1616, os luso-brasileiros se empenharam em tomar posse das terras marginais do rio Amazonas e de seus grandes afluentes em nome de Portugal e Espanha, então unificados. No final do século 17, já haviam transposto o divisor de águas dos rios Branco-Essequibo, permitindo que, em 1690, já se registrassem algumas trocas entres holandeses do Essequibo e índios do Rupunani. Toda a bacia do rio Branco, como o Pirara e o lago Amacu, assim como grande parte da bacia do Rupunani e de seu afluente Cipó, como então os portugueses chamavam o Alto Essequibo, estava na posse do Brasil, confirmada pela delimitação feita pela Holanda antes de 1748 e aceita por Portugal em 1783. De fato, a linha extrema das pretensões holandesas seria o limite meridional das colônias do Essequibo, Demerara e Berbice, isto é, a Serra de Paracaima e a linha traçada da confluência Anaí-Rupunani para sudoeste, até a Serra do Tumucumaque. As possessões portuguesas abrangiam, assim, além dos territórios da bacia do rio Branco, os de ambas as margens do Rupunani a desde sua nascente até a confluência do Anaí. O Tacutu, com o Cotingo e o Maú, seu afluente, assim como o Pirara, tributário do Maú, encontravam-se em território brasileiro.


Foi somente em 1781 que a Inglaterra surgiu em terras da Guiana, tomando da Holanda, como presas de guerra, as colônias de Essequibo, Demerara e Berbice. Em 1810, os ingleses subiram o Essequibo pela primeira vez , sendo detJdos por um destacamento militar português no Pirara, retornando para a margem esquerda do Rupunani. Contudo, em 1 827, sir B. D'Urban, governador da Guiana Inglesa, começa a contestar o limite com o Brasil e, em 1837, lorde Palmerston promove a missão Schomburgk, cuja incumbência era examinar as cadeias de montanhas que formam o divisor de águas entre as bacias do Amazonas e do Essequibo, com 'objetivos de simples descobertas geográficas'. Em realidade, Schomburgk já havia realizado, desde 1835, viagens de exploração no interior da Guiana por conta da Royal Geographic Society, tendo afirmado, em seu primeiro relatório, que 'cerca de 20 milhas acima de sua confluência (do Rupunani - n.a.) com o Essequibo ... no que é usualmente considerado a extremidade sudoeste da colônia britânica, eles formaram habitação temporária, ou quartel-general'. Contudo, em seu terceiro relatório, Schomburgk esqueceu tudo o que havia escrito anteriormente e afirmou que o forte de São Joaquim (na confluência do rio Branco com o Urariquera) tinha sido sempre considerado como o limite oriental da Guiana Brasileira. Ele já havia começado a incitar os índios macuxis a entrar em correspondência com o reverendo Thomas Youd, da Missão de Bartika Point, que se estabeleceu na região do Pirara em junho de 1838.


Em fevereiro de 1840, o capitão Leal, comandante do Forte São Joaquim, juntamente com o missionário brasileiro frei José dos Santos Inocentes, empenharam-se em evacuar a missão do reverendo Youd, que, efetivamente, retirou-se para Waraputa Rapids, no Essequibo, 'longe dos territórios em litígio', conforme


instruções recebidas da Church Missionary Society of England. Esta ação pareceu ao Governo britânico um 'ato de usurpação' e, em nota de 20 de fevereiro de 1841, o encarregado de negócios de S.M. Britânica no Rio de Janeiro comunicava ao ministro de Negócios Estrangeiros, Aureliano Coutinho, que o Governo britânico encarregara Schomburgk de explorar e delimitar as fronteiras entre a Guiana Britânica e o Brasil e enviara instruções ao Governo da Colônia 'para se opor a toda usurpação sobre o Pirara ou sobre o território ocupado até agora por tribos independente s'. Um mapa da Guiana Britânica, acompanhado de memória explicativa, seria feito de acordo com a linha de fronteiras descrita por Schomburgk e cópias do mesmo enviadas aos governos do Brasil, Venezuela e Holanda, como declaração da reivindicação brit:inica, enquanto, ao mesmo tempo, comissários britânicos seriam mandados a erigir marcos nas linhas de fronteiras, tal como reclamado pela Grã-Bretanha. Frei José dos Santos Inocente foi logo intimado por um oficial britâinico a abandonar imediatamente a região do Pirara e o território limítrofe da Guiana Britânica, considerado ocupado por 'tribos independentes' que reclamavam a proteção da Grã-Bretanha!


O Governo do Rio de Janeiro concordou em retirar do Pirara os seus delegados e todo o destacamento militar e reconhecer, provisoriamente, a neutralidade desta localidade, sob a condição de que as tribos indígenas permanecessem 'independentes' e na posse exclusiva do terreno, até a decisão definitiva dos limites contestados. Ou seja, o Governo brasileiro admitiu a existência de 'tribos independentes', como pretendido pelos britânicos. Em fevereiro de 1842, uma nova expedição de Schomburgk, apoiada por um destacamento militar, chegou ao Pirara e colocou marcos fronteiriços. O território 'contestado' pela Inglaterra media 54.687 km2, sendo posteriormente (1891) reduzido para 25.187 km2, dos quais o Brasil renunciou a 15.087 km2 ao aceitar, em 1904, o laudo do rei Vittorio Emanuele I , da Itália, escolhido como árbitro da disputa. Os ingleses tinham agora acesso à Amazônia pelo Pirara e o Brasil perdera o acesso ao Essequibo. Pelos serviços prestados à Coroa britânica, Schomburgk recebeu o título de sir.


sábado, 19 de julho de 2025

A Liderança Israelita Atual Está Abrindo as Portas do Inferno - Alexander Dugin

 


Para as três religiões monoteístas — judaísmo, islamismo e cristianismo — isso não é meramente um território ou uma zona definida pelas fronteiras de uma entidade política. Trata-se de um espelho da história mundial. Nas sociedades tradicionais dessas religiões, acreditava-se que por Jerusalém e pela Terra Santa passava um eixo vertical que ligava os reinos Celestial, terrestre e subterrâneo. A entrada para o Paraíso — e a entrada para o Inferno.


A ideia de dar a Palestina aos judeus, que começou a ganhar força há cerca de cem anos — e especialmente após as atrocidades cometidas por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial — parecia uma solução razoável. Muitas nações tinham seus próprios Estados, enquanto os judeus não tinham. Não se tratava apenas de terra, mas de criar um Estado nacional judeu independente, o que muitos, incluindo Stalin, acabaram por aceitar. Foi assim que o Estado de Israel foi fundado. No entanto, a parte mais crucial do plano da ONU para a partilha da Palestina foi negligenciada: o cumprimento de uma profecia de importância absoluta para a religião judaica — a profecia de que, após dois mil anos de errância e dispersão, os judeus retornariam à Terra Prometida.


E foi exatamente isso que aconteceu. A Terra Santa foi entregue a uma só religião: o judaísmo. A conduta do Estado de Israel nesse território evoluiu ao longo do tempo. Inicialmente, a opinião global era moldada pela simpatia, já que o povo judeu havia recentemente sofrido horrores indescritíveis. No entanto, as ações subsequentes dos governos israelenses vêm atraindo críticas e preocupações crescentes da comunidade internacional. Um exemplo recente: neste momento, está estourando um enorme escândalo nos Estados Unidos em torno do caso de pedofilia de Epstein, os bombardeios ao Irã, a escalada de tensões conosco [Rússia], o assassinato de Kennedy — e em todos esses episódios, o fator central parece ser o Estado de Israel. De repente, parece que a política externa americana é desproporcionalmente moldada pelos imperativos estratégicos de Israel — que deixou de ser uma entidade benigna e passou a ser um poder endurecido, disposto a agir com interesse próprio implacável.


O Estado de Israel está realizando uma limpeza étnica em Gaza, atacando o Estado soberano do Irã para impedir que este obtenha armas nucleares — enquanto ele próprio as possui. Coloca no poder na Síria o carrasco e terrorista al-Sharaa, e depois, conhecendo sua natureza assassina, começa a bombardear a antiga Damasco. Deve-se perguntar: a quem a humanidade confiou este território — este espelho do mundo? Parece que a atual liderança israelense está abrindo os portões, não do Céu, mas do Inferno. Em resumo, o que está acontecendo hoje no Oriente Médio é um quadro extremamente sombrio.


A pergunta mais importante: por que nós, representantes da fé cristã monoteísta, entregamos esta terra — sagrada para todos nós, cristãos e muçulmanos — à posse plena dos judeus? Havia resoluções da ONU de 1947 afirmando que Jerusalém deveria permanecer uma cidade internacional sob tutela internacional. No entanto, os sionistas não deram atenção a isso e agiram de maneira completamente inesperada.


A transformação foi marcante. Uma nação outrora vista universalmente como vítima de atrocidades históricas agora atua no cenário global com força extraordinária e assertividade estratégica. Aos olhos de muitos críticos, o moderno Estado de Israel tem seguido políticas marcadas por operações encobertas, assassinatos extraterritoriais e uma disposição para remodelar realidades geopolíticas por meio da inteligência, influência e ataques preventivos. Locais sagrados são bombardeados, governos são derrubados e os equilíbrios regionais são subvertidos — com pouco respeito às normas internacionais. Atua, segundo muitos argumentam, com impunidade.


Isso, é claro, nos força a refletir profundamente sobre os tempos em que vivemos. A leitura religiosa dos eventos que se desenrolam nos lugares sagrados das três religiões monoteístas não pode ser reduzida a petróleo, gás, fundos de investimento, preços do petróleo, valor do Bitcoin ou manobras políticas. Estamos lidando com algo muito mais importante e fundamental.

Caso Pirara - O perigo do ambientalismo e indigenismo contra a soberania nacional

  A 'carta indígena' já foi astutamente empregada pelo Establishment colonial britânico no século passado para a conquista da 'I...